Resumo A expansão da influência da medicina sobre problemas sociais e questões morais tem sido objeto de intensas discussões, mas muitos especialistas reclamam que a análise tem perdido rigor. Neste ensaio, recuperamos os sentidos mais profundos do termo medicalização e discutimos duas hipóteses inter-relacionadas: se as políticas públicas com impacto positivo sobre os níveis de saúde populacional cumpririam um papel desmedicalizante e se o aprofundamento da democracia poderia ser considerado uma condição imprescindível para enfrentar os processos medicalizantes. Com base na literatura, identificam-se conceitos nucleares relacionados às principais forças motrizes dos processos de medicalização e também mudanças associadas ao controle aumentado sobre a natureza que modifica a vida como a conhecemos, e destaca-se o avanço da ordem econômica capitalista sobre outras esferas como o Estado e a comunidade. Diante deste contexto, argumenta-se que qualquer perspectiva desmedicalizante de longo alcance dependeria ao menos de duas hipóteses inter-relacionadas que correspondem ao modelo que orienta a resposta às necessidades de saúde e à força da democracia em seu duplo sentido, seja como categoria política capaz de colocar os setores majoritários da sociedade no centro das decisões do Estado, seja como categoria econômica capaz de alterar os efeitos econômicos do capitalismo nas relações Estado-sociedade.
Abstract The expansion of the influence of medicine on social demands and moral issues has been the subject of intense discussions, but many experts claim that the analysis has lost rigor. By this essay, we recover the deeper senses of the term medicalization and discuss two interrelated assumptions: if public policies with a positive impact on the population health levels would meet a demedicalizing role and if the deepening of democracy could be considered an essential condition to face the medicalizing processes. We summarize core concepts related to the main driving forces of medicalization processes and also changes associated with increased control over nature transforming life as we know it, highlighting the advance of capitalist economic order on other spheres as the state and the community. We argue that any long-range demedicalizing perspective would depend at least two hypotheses interrelated, corresponding to the model that guides the response to health needs, and the strength of democracy in its double meaning, either as a politics category able to put the majority sectors of society at the heart of state decisions, either as an economic category able to change the economic effects of capitalism in the state-society relations.
Resumen La expansión de la influencia de la medicina sobre problemas sociales y cuestiones morales ha sido objeto de intensas discusiones, pero muchos expertos reclaman que el análisis ha perdido rigor. En este ensayo, recuperamos los sentidos más profundos del término medicalización y discutimos dos hipótesis interrelacionadas: si las políticas públicas con impacto positivo sobre los niveles de salud poblacional cumplieran un papel desmedicalizante y si la profundización de la democracia podría considerarse una condición imprescindible para enfrentar los procesos medicalizantes. Con base en la literatura, se identifican conceptos nucleares relacionados a las principales fuerzas motrices de los procesos de medicalización y también cambios asociados al control creciente sobre la naturaleza que modifica la vida como la conocemos, y se destaca el avance del orden económico capitalista sobre otras esferas como el Estado y la comunidad. En este contexto, se argumenta que cualquier perspectiva desmedicalizante de largo alcance, dependería al menos de dos hipótesis interrelacionadas que corresponden al modelo que orienta la respuesta a las necesidades de salud, y a la fuerza de la democracia en su doble sentido, sea como categoría política capaz de colocar a los sectores mayoritarios de la sociedad en el centro de las decisiones del Estado, sea como categoría económica capaz de alterar los efectos económicos del capitalismo en las relaciones Estado-sociedad.