O presente artigo visa entender como uma equipe de transplante hepático se relaciona com a constante tensão entre certeza e incerteza nas práticas médicas associadas à utilização de imagens durante o processo de transplante. Para tanto, utiliza-se a metodologia de abordagem qualitativa, a etnografia e o estudo de caso como procedimentos técnicos. Os dados foram coletados por meio de observação e entrevistas semidiretivas realizadas com a equipe de transplante do Hospital de Clínicas da UFPR. Toda imagem demanda a análise e interpretação, de preferência de um especialista em imagem, capaz de identificar o que esta revela. E é nesse momento que se percebem as insuficiências das imagens e ao mesmo tempo do manifesto pela certeza; da ilusão de uma prática de interpretação sem a presença da subjetividade de quem interpreta. Na análise de imagens médicas o que está em jogo também é o modo de ver o objeto analisado. Muitas vezes o que se vê são fragmentos do que ocorre no corpo, e a interpretação dessa imagem pressupõe informações que não estão visíveis, mas que são capturadas pela experiência e pelo conhecimento adquiridos pelo médico ao longo do tempo e também na sua relação com o paciente. Percebe-se, assim, que mesmo com o desenvolvimento das tecnologias de imagem no campo médico, não se elimina a tensão entre a objetividade e a subjetividade, entre a certeza e a incerteza, entre o saber e o ver.
This article aims to understand how a liver transplantation team deals with the constant tension between certainty and uncertainty in medical practices associated with the use of images in the transplantation process. We used the methodology of qualitative approach, ethnography and case study as technical procedures. Data were collected through observation and through semi-directive interviews performed with the transplantation team of Hospital das Clínicas of UFPR. Every image requires analysis and interpretation, preferably by an imaging specialist, who is able to identify what it reveals. And that is when the insufficiencies of the images are perceived, as well as of the manifested certainty; the illusion of a practice of interpretation without the presence of the subjectivity of the interpreter. In the analysis of medical images what is at stake is also the way of seeing the object being analyzed. Often what we see are fragments of what happens in the body, and the interpretation of the image presupposes information that is not visible, but which is captured by the experience and knowledge acquired by the physician over time and in his/her relationship with the patient. It can be seen, therefore, that even with the development of imaging technologies in the medical field, the tension between objectivity and subjectivity, between certainty and uncertainty, between knowing and seeing, is not eliminated.