O objetivo do presente artigo é mostrar que há “efeitos de exaustividade” no uso das clivadas que diferem da “identificação por exclusão” – o efeito mais conhecido pela literatura (ATLAS; LEVINSON, 1981; HORN, 1981; KISS, 1998; WEDGWOOD; PETHŐ; CANN; 2006; BÜRING; KRIZ, 2013). Para atingir esse objetivo, apresentamos um estudo descritivo detalhado de casos, por meio do qual verificamos os efeitos contextuais de exemplos encontrados em jornais e revistas da imprensa brasileira. Utilizamos, para isso, modificadores associados pela literatura aos efeitos das clivadas sobre o “conjunto contextual de alternativas” – como “somente” e “e ninguém mais” (ATLAS; LEVINSON, 1981; HORN, 1981), “exatamente” e “precisamente” (MENUZZI; ROISENBERG, 2010a). Nossa conclusão é a de que os “efeitos de exaustividade” envolvem vários tipos de inferências acerca da estrutura do domínio de referentes do discurso e podem modificar essa estrutura de diversos modos. Esse resultado coloca sob nova perspectiva algumas das questões acerca da semântica e da pragmática das clivadas; em particular, a de saber quanto dos “efeitos de exaustividade” tem algum caráter “convencional” (como as pressuposições e as implicaturas generalizadas), e quanto é derivado por inferência pragmática particularizada.
In this article, we show that cleft sentences may have “exhaustiveness effects” quite different from the “identification by exclusion” – which is the effect usually discussed by the literature (ATLAS; LEVINSON, 1981; HORN, 1981; KISS, 1998; WEDGWOOD; PETHŐ; CANN; 2006; BÜRING; KRIZ, 2013). To show this, we present a detailed study of cases in which we test the contextual effects triggered by clefts found in Brazilian magazines and newspapers. Our testing tools are modifiers that the literature associates with exhaustiveness, such as only and and nobody else (ATLAS; LEVINSON, 1981; HORN, 1981), and exactly and precisely (MENUZZI; ROISENBERG, 2010a). On the basis of such tests, we conclude that “exhaustiveness effects” involve various types of inferences about the structure of the domain of the discourse referents, and may modify such a structure in many different ways. This result, we believe, puts into a new perspective many of the questions about the semantics and the pragmatics of clefts, in particular whether “exhaustiveness effects” are conventionalized pragmatic inferences (such as a presupposition, or a generalized implicature), or particularized implicatures.