Este artigo propõe uma recomposição da intriga de narrativas sobre a Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal a partir da cobertura de dois jornais brasileiros de referência: o paulistano O Estado de S. Paulo e o carioca Jornal do Brasil. Compreendemos a narrativa jornalística como uma ordenadora do tempo na contemporaneidade, exprimindo uma “circulação generalizada da percepção histórica” (Nora, 1979, p. 180), mobilizada pela emergência de um novo fenômeno: o acontecimento. O incomum golpe de Estado em Portugal mexeu com o imaginário político mundial, reavivando confrontos entre esquerda e direita. Nesse momento, no Brasil, a ditadura militar completava 10 anos e iniciava-se o mandato do quarto presidente integrante das Forças Armadas. As narrativas são analisadas sob diferentes pontos de vista: por meio da organização dos fatos no tempo, da construção das personagens, das projeções para o futuro ou, ainda, da ressignificação do passado.
This paper proposes a recomposition of the intrigue of journalistic narratives on the Revolution of April 25, 1974 in Portugal based on the coverage of two Brazilian newspapers: O Estado de S. Paulo and Jornal do Brasil. The journalistic narrative is understood as a time orderer in the contemporaneity, expressing a “generalized circulation of historical perception” (Nora, 1979, p. 180), mobilized by the emergence of a new phenomenon: the event. The unusual coup d’état in Portugal stirred the world’s political imagination, reviving confrontations between left and right. At that moment, in Brazil, the military dictatorship completed 10 years and the fourth president of the Armed Forces was beginning its mandate. Narratives are analyzed from different points of view: the organization of facts in time, the construction of characters, projections for the future, or the re-signification of the past.