Resumo Até que ponto a música ou outras produções artísticas podem ser um meio de reconhecimento e de aprendizagem sobre um território? (Guerra, 2019a). Esta foi a questão inicial com que nos debatemos, pois apesar de sabermos de forma corroborada o papel e a relevância de géneros musicais como o rap e da cultura hip-hop no mundo artístico, começamos a questionar de que forma são abordados determinados conteúdos, partindo de influências musicais distintas e diversas, desde o rap ao trap, consoante as manifestações de (sub)géneros musicais (Frith, 1996; Lena & Peterson, 2008). Deste modo, o nosso foco incidiu numa análise das letras das músicas de treze artistas, com o intuito de perspetivar as mensagens líricas que são transmitidas, as diversas relações ou referências que possam ser feitas a contextos geográficos, mais concretamente bairros sociais, e concomitantemente perceber como é que estas produções são pautadas pelas posições de afirmação estereotipadas relativas à representação do artista gangster, às vivências e aos consumos desviantes. Como é que um país de pequena dimensão se posiciona, em termos de produção e consumo musical, face a estes processos de resistência (Johansson & Lalander, 2012; Guerra & Quintela, 2016) musical? Acima disso, tentamos compreender em que sentido os artistas alvo de análise ainda refletem nas suas produções artísticas temas como a exclusão, a violência, a criminalidade e outras questões. Trata-se de um artigo que procura enfatizar o papel das criações artísticas enquanto (re)produtoras de conhecimento relevante sobre as realidades sociais (Guerra, 2019a; Becker, 2007).
Abstract To what extent can music or other artistic productions be a means of recognition and learning about a territory? (Guerra, 2019a). This was the initial question with which we struggled, because despite knowing in a corroborated way the role and relevance of musical genres such as rap and hip-hop culture in the artistic world; this questioning focused on how certain contents are approached, starting from distinct and diverse musical influences, from rap to trap, according to the manifestations of musical (sub)genres (Frith, 1996; Lena & Peterson, 2008). In this way, our focus was on an analysis of the lyrics of thirteen artists' songs, in order to put into perspective, the lyrical messages that are transmitted, the various relationships or references that can be made to geographical contexts, more specifically social neighbourhoods, and concomitantly understand how these productions are guided by stereotypical affirmative positions concerning the representation of the gangster artist, the experiences and deviant consumption. How does a small-sized country position itself, in terms of music production and consumption, in relation to these processes of musical resistance (Johansson & Lalander, 2012; Guerra & Quintela, 2016)? Above that, we try to understand in what sense the artists targeted by the analysis still reflect in their artistic productions’ themes such as exclusion, violence, criminality and other issues. This is an article that seeks to emphasize the role of artistic creations as (re)producers of relevant knowledge about social realities (Guerra, 2019a; Becker, 2007).