O objetivo deste artigo é, partindo das ponderações de Pierre Bourdieu acerca da importância do estudo das condições sociais da circulação internacional de ideias, fazer uma sociologia histórica da circulação e da recepção do livro Sociologia dos partidos políticos, de Robert Michels. Toma-se como foco a passagem de Michels e de seu livro pelos Estados Unidos, procurando mostrar como consolidou-se a partir daí uma forma de leitura do texto e uma representação do autor que é hoje predominante e que está na base da sua celebração e da sua consagração como um clássico da Ciência Política. Para tanto, faz-se uma comparação sistemática de diferentes edições e traduções do livro, bem como de resenhas que dele foram produzidas, procurando identificar distintas leituras feitas ao longo do tempo, associando-as com elementos da trajetória biográfica do autor, bem como com a história das Ciências Sociais nos Estados Unidos e, em particular, com a história da Ciência Política nesse país. De um autor pessimista em relação à democracia, ou mesmo com um viés antidemocrático, associado ao fascismo, Michels foi sendo visto no pós-Guerra como um pensador realista e suas teses como base para a formulação de uma noção de democracia identificada com o pluralismo liberal.
Taking Pierre Bourdieu's considerations on the importance of studying the social conditions of the international circulation of ideas as my point of departure, my purpose here is to advance a historical sociology of the circulation and reception of Robert Michels' Sociology of political parties. I focus on Michels and his book's trajectory in the United States, attempting to show how a way of reading the text and representing its author took hold which still prevails today becoming the basis for its celebration and consecration as a classic of Political Science. With these purposes in mind, I engage in a systematic comparison of different editions and translations of the book, as well as reviews that were written of it. I attempt to identify different types of interpretations that were made over time, associating them with elements of the author's biographical trajectory and the history of the social sciences in that country - and political science in particular: from early perceptions as an author who was pessimistic about democracy or even anti-democratic and associated with fascism to his postwar interpretation as a realist thinker whose theses became the basis for a notion of democracy associated with liberal pluralism.
L'objectif de cet article est, en partant des considérations de Pierre Bourdieu autour de l'importance de l'étude des conditions sociales de la circulation internationale d'idées, de faire une sociologie historique de la circulation et de la réception du livre La Sociologie des partis politiques, de Robert Michels. Dans l'article, l'accent est mis sur le passage de Michels et son livre par les États-Unis, cherchant à montrer comment, à partir de là, s'est consolidée une forme de lecture du texte et une représentation de l'auteur qui est aujourd'hui prédominante et à la base de sa célébration et de sa consécration comme un classique de la Science Politique. Pour cela, on fait une comparaison systématique de différentes éditions et traductions du livre, bien comme d'analyses produites à partir de lui, cherchant à identifier des lectures distinguées faites au fil du temps, en leur associant à des éléments de la trajectoire biographique de l'auteur, bien comme à l'histoire des Sciences Socialesaux États-Unis et, en particulier, à l'histoire de la Science Politique dans ce pays . D'un auteur pessimiste par rapport à la démocratie, ou même avec une tendance antidémocratique, associé au fascisme, Michels a été vu dans le post-Guerre comme un philosophe réaliste, et ses thèses autant qu'une base pour la formulation d'une notion de démocratie identifiée avec le pluralisme libéral.