RESUMO O objetivo do artigo é caracterizar, tão precisamente quanto possível, a filosofia da arte de Martin Heidegger a partir de seus distanciamentos para, em seguida, delinear um problema que nos parece estrutural. Com a noção de acontecimento [Ereignis], Heidegger pretende distinguir sua perspectiva sobre arte principalmente de outras duas, a saber, a da tradição neokantiana e a de Hegel. Isso nos permite ter uma dimensão da radicalidade conceitual de Heidegger, na medida em que o acontecimento pretende apontar um momento poético anterior ao linguístico, também compreendido como abertura de um mundo. Esse momento, contudo, escapa às relações de referência previstas na noção de mundo e se torna praticamente indizível. Além disso, a obra de arte que abre um mundo não deixa também de poder ser identificada como um ente intramundano, enredando, assim, a própria perspectiva de Heidegger em uma série de dificuldades aparentemente incontornáveis.
ABSTRACT The aim of the article is to characterize Martin Heidegger’s philosophy of art, as accurately as possible, through what he wants to take distance from; and then we seek to outline a problem that seems structural. With the notion of enowning [Ereignis] Heidegger intends to distinguish his perspective on art especially from two other ones, namely that of Neokantian tradition and Hegel’s. This allows us to have a dimension of Heidegger’s conceptual radicalism, insofar as the enowning aims to point to a poetic moment which is prior to language. This moment is conceived as a world disclosure. However, it escapes the reference relations foreseen in the notion of world, and becomes basically unspeakable. In addition, the work of art that opens up a world can also be identifed as something innerworldly, thus entangling Heidegger’s own perspective in a series of seemingly unsurmountable difficulties.