OBJETIVO: Estimar a prevalência da infecção pelo vírus da hepatite B e identificar as possíveis vias de infecção em crianças de 3 a 9 anos em um município da Amazônia brasileira. MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal com 487 crianças matriculadas em creches e escolas públicas. Foram obtidos dados acerca de migração, história médica, exposição a fatores de risco clássicos para infecção, aspectos socioeconômicos e hábito de compartilhar a cama ou objetos de uso pessoal. Também foi investigada a presença no domicílio de morador com doença sexualmente transmissível, usuário de drogas injetáveis, dependente de bebida alcoólica, homens que faziam sexo com outro homem e pessoa com múltiplos parceiros sexuais, além de história de icterícia ou hepatite e de transfusão de hemoderivados. Foram obtidas amostras de sangue das crianças para pesquisa de marcadores virais. RESULTADOS: A prevalência de marcadores do vírus da hepatite B foi de 11,1% (54 crianças). Seis crianças (1,2%) eram portadoras do HBsAg. Não houve associação entre marcadores virais e condições econômicas, escolaridade dos pais, condições higiênico-sanitárias, número de cômodos do domicílio, história prévia de icterícia ou hepatite, tratamento dentário, acidente com seringas e agulhas, reutilização de agulhas, transfusão de hemoderivados e hábito de compartilhar a cama ou objetos pessoais. Porém, as crianças que tiveram contato com usuário pesado de bebida alcoólica tenderam à maior prevalência de marcadores virais (P= 0,06). Dentre as crianças estudadas, 53 (10,9%) haviam sido vacinadas contra a hepatite B, mas nenhuma havia completado o esquema vacinal de três doses. Na regressão logística, as variáveis "história de icterícia materna durante a gravidez," "mais de oito moradores no domicílio" e "profissão da mãe" mostraram associação com maior prevalência de marcadores virais. CONCLUSÃO: A população de Peixoto de Azevedo provavelmente apresenta endemicidade moderada de hepatite B, tendo a transmissão horizontal como a principal forma de infecção. Fatores ligados à promiscuidade domiciliar possivelmente são determinantes da infecção na primeira década da vida. O baixo índice de cobertura vacinal possibilita a livre circulação viral.
OBJECTIVE: To estimate the prevalence of hepatitis B infection and to identify possible means of transmission in children from 3 to 9 years of age in Peixoto de Azevedo, a town in the Brazilian Amazon. METHODS: A cross-sectional study was carried out with 487 children enrolled in public schools and day-care centers. We obtained data concerning migration, medical history, exposure to classical risk factors for hepatitis B infection, socioeconomic factors, and the habit of sharing a bed or personal objects. We also investigated the presence in the home of persons with sexually transmitted diseases, injecting drug users, heavy alcohol users, men who had sex with other men, persons with multiple sexual partners, and a history of jaundice or hepatitis or of receiving a transfusion of blood products. Blood samples were obtained from the children to test for viral markers. RESULTS: The prevalence of hepatitis B viral markers was 11.1% (54 of 487 children). Six of the children (1.2%) tested positive for hepatitis B surface antigen. There was no association between viral markers and economic conditions, parental schooling, sanitary conditions (e.g., source of drinking water, method of wastewater disposal, method of trash disposal), number of rooms in the home, the child's history of jaundice or hepatitis, dental treatment, any accidents with needles or syringes, reusing needles or syringes, transfusion of blood products, and the habit of sharing a bed or personal objects. However, children who had contact with heavy alcohol users tended to have a higher prevalence of viral markers (P = 0.06). Among the children studied, 53 of them (10.9%) had received one or two doses of hepatitis B vaccine, but none had completed the three-dose series. Logistic regression showed that an increased prevalence of viral markers was associated with a maternal history of jaundice during the pregnancy, more than eight persons living in the home, and the mother not working in a professional occupation. CONCLUSION: Hepatitis B is probably moderately endemic in the population of Peixoto de Azevedo, with transmission mainly occurring horizontally. Such factors as being exposed in the home to persons who are heavy users of alcohol are probably important determinants of infection in the first decade of life. The low vaccination coverage promotes free circulation of the virus.