A privação total e prolongada de alimentos em adultos não-obesos é raramente vista, e poucos estudos documentaram as modificações da composição corpórea neste contexto.Num grupo de oito casos de greve de fome durante 43 dias, procedeu-se à estimativa dos compartimentos hídricos e energéticos, visando averiguar a influência sobre os mesmos da desnutrição progressiva.Os métodos incluiram índice de massa corporal (IMC), prega cutânea do tríceps (PCT), circunferência muscular do braço, e determinação através da bioimpedância (BIA) da água, massa gorda, massa magra e resistência corpórea total..A calorimetria indireta foi realizada em uma ocasião apenas.A idade do grupo era de 43,3± 6,2 anos (sete homens, uma mulher), somente água e ocasionais eletrólitos e vitaminas foram ingeridos no jejum, e a perda de peso média foi de 17,9%. Por volta do 43º dia da greve iniciou-se a reposição venosa rápida de fluidos, vitaminas e eletrólitos,antes de se prosseguir com a realimentação.A gordura corporal diminuiu em aproximadamente 60% (BIA e PCT), ao passo que o IMC caiu apenas 18%.A estimativa da gordura total inicial por BIA foi de 52,2± 5,4% do peso corporal, e mesmo no 43º dia do evento o valor calculado era de 19,7± 3,8% do peso.Os valores correspondentes deduzidos da PCT mostraram-se substancialmente inferiores, e mais compatíveis com os demais índices antropométricos. A água corporal revelou-se inicialmente contraída, com resistência elevada,sendo que estes achados se reverteram rapidamente por ocasião da hidratação venosa rápida.Quando do término da greve de fome o IMC (21,5± 2,6 kg/m²) e outras variáveis antropométricas revelavam-se numericamente aceitáveis, sugerindo eficiente conservação de musculatura e energia na fase de dieta zero.Conclui-se que: 1) Todos os compartimentos orgânicos se contrairam na greve de fome, porém o tecido adiposo foi de longe o mais afetado; 2) A água corporal mostrou-se reduzida com elevada resistência total, mas estes achados inverteram-se prontamente mediante hidratação parenteral; 3) O encontro de gordura total excessiva e de aumento da massa magra com o avançar do jejum sugerem que as leituras de BIA são inapropriadas para esta população e fornecem resultados incoerentes; 4) Com base nos parâmetros expostos os doentes não estavam morfologicamente desnutridos ao cabo de 43 dias, todavia não foram aqui avaliados outros transtornos de considerável importância prognóstica.
Prolonged total food deprivation in non-obese adults is rare, and few studies have documented body composition changes in this setting. In a group of eight hunger strikers who refused alimentation for 43 days, water and energy compartments were estimated, aiming to assess the impact of progressive starvation. Measurements included body mass index (BMI), triceps skinfold (TSF), arm muscle circumference (AMC), and bioimpedance (BIA) determinations of water, fat, lean body mass (LBM), and total resistance. Indirect calorimetry was also performed in one occasion. The age of the group was 43.3±6.2 years (seven males, one female). Only water, intermittent vitamins and electrolytes were ingested, and average weight loss reached 17.9%. On the last two days of the fast (43rd-44th day) rapid intravenous fluid, electrolyte, and vitamin replenishment were provided before proceeding with realimentation. Body fat decreased approximately 60% (BIA and TSF), whereas BMI reduced only 18%. Initial fat was estimated by BIA as 52.2±5.4% of body weight, and even on the 43rd day it was still measured as 19.7±3.8% of weight. TSF findings were much lower and commensurate with other anthropometric results. Water was comparatively low with high total resistance, and these findings rapidly reversed upon the intravenous rapid hydration. At the end of the starvation period, BMI (21.5±2.6 kg/m²) and most anthropometric determinations were still acceptable, suggesting efficient energy and muscle conservation. Conclusions: 1) All compartments diminished during fasting, but body fat was by far the most affected; 2) Total water was low and total body resistance comparatively elevated, but these findings rapidly reversed upon rehydration; 3) Exaggerated fat percentage estimates from BIA tests and simultaneous increase in lean body mass estimates suggested that this method was inappropriate for assessing energy compartments in the studied population; 4) Patients were not morphologically malnourished after 43 days of fasting; however, the prognostic impact of other impairments was not considered in this analysis.