RESUMO CONTEXTO: A fístula pancreática representa a complicação mais temida após as duodenopancreatectomias, sendo a grande responsável pela elevada morbi-mortalidade após esta operação. Sua incidência permanece em torno de 10% a 30%. Nos últimos anos, diversos trabalhos têm estudado o valor da amilase nos drenos abdominais, medido de forma precoce após o procedimento cirúrgico, como ferramenta útil para a identificação dos pacientes sob risco de desenvolver fístula pancreática. OBJETIVO: Avaliar o valor da amilase no fluido dos drenos abdominais, obtido precocemente no pós-operatório, como método para prever a ocorrência e severidade da fístula pancreática nos pacientes submetidos a duodenopancreatectomias. MÉTODOS: Foram avaliados 102 pacientes prospectivos submetidos a duodenopancreatectomias no período de janeiro de 2013 a junho de 2017. A dosagem da amilase nos drenos abdominais foi realizada nos dias 1, 3, 5 e 7 em todos os pacientes. Os pacientes foram divididos em três grupos conforme os resultados do 1o PO: valores <270 U/L (grupo 1); entre 271 e 5.000 U/L (grupo 2); e valores >5.000 U/L (grupo 3). RESULTADOS: A incidência de fístula pancreática foi de 25,5%, sendo 3,33%, 27,3% e 41,02% nos três grupos, respectivamente. Comparados ao grupo 1, o risco de desenvolver fístula pancreática foi crescente com o aumento da amilase no 1o PO. Os valores das amilases no 1o PO e 3o PO dos pacientes com fístula pancreática foram maiores do que nos pacientes sem essa complicação (P<0,001). Além disso, no grupo 3, 37,5% dos pacientes com fístula pancreática evoluíram para óbito (P<0,001). Por fim, neste grupo, os pacientes que evoluíram para óbito tiveram valores de amilase no 1o PO significativamente maiores do que os demais pacientes (P<0,001). CONCLUSÃO: O valor da amilase, medido de forma precoce nos drenos abdominais no pós-operatório de duodenopancreatectomias, é teste útil para estratificar pacientes em relação ao risco de apresentar fístula pancreática, além de se correlacionar com a severidade dessa complicação.
ABSTRACT BACKGROUND: Pancreatic fistula represents the most feared complication after pancreatoduodenectomies, being the major responsible for the high morbidity and mortality after this operation. Its incidence remains around 10% to 30%. In recent years, several authors have studied the value of amylase in abdominal drains fluid, measured at an early stage after the surgical procedure, as a useful tool to identify patients at risk of developing pancreatic fistula. OBJECTIVE: To analyze the value of early drain fluid amylase as a method to predict the occurrence and severity of postoperative pancreatic fistula in patients undergoing pancreatoduodenectomies. METHODS: We evaluated 102 prospective patients submitted to pancreatoduodenectomies from January 2013 to June 2017. The mensuration of amylase in abdominal drains was performed on days 1, 3, 5 and 7 in all patients. Patients were divided into three groups according to postoperative day 1 (POD1) results: values <270 U/L (group 1); between 271 and 5.000 U/L (group 2); and values >5.000 U/L (group 3). RESULTS: The incidence of pancreatic fistula was 25.5%, being 3.33%, 27.3% and 41.02% in the three groups, respectively. Compared with group 1, the risk of developing pancreatic fistula increased with increasing amylase values on POD1. Amylase values on POD1 and POD3 of patients with pancreatic fistula were higher than in the other ones without this complication (P<0.001). In addition, in group 3, 37.5% of patients with pancreatic fistula evolved to death (P<0.001). Finally, in this group, patients who died had drain fluid amylase values on POD1 significantly higher than the others in the same group (P<0.001). CONCLUSION: Early drain fluid amylase value is a useful test to stratify patients in relation to the risk of developing pancreatic fistula after pancreatoduodenectomies, in addition to correlate with the severity of this complication.