INTRODUÇÃO: O entendimento da fisiopatologia do transtorno bipolar vem tendo avanços consistentes nos últimos anos. Um enfoque na relação entre carga alostática e alterações sistêmicas vem tomando corpo, com o objetivo de se entender a frequente progressão da doença. Proeminentes entre os mediadores periféricos têm sido as moléculas que poderiam ser amplamente agrupadas em neurotrofinas, marcadores de estresse oxidativo e marcadores inflamatórios. OBJETIVO: Descrever achados recentes em relação à fisiopatologia sistêmica do transtorno bipolar, com enfoque especial em estudos brasileiros, tentando articular uma visão coerente do conhecimento atual do campo. MÉTODO: Revisão narrativa da literatura relacionada a neurotrofinas, estresse oxidativo e marcadores inflamatórios no transtorno bipolar. RESULTADOS: Diversas fontes de evidência, provenientes tanto de estudos pré-clínicos quanto clínicos, revelam consistentemente alterações sistêmicas no transtorno bipolar. Os achados são especialmente robustos em pacientes com múltiplos episódios. Nesses, alterações relacionadas a episódios de mania e depressão são notáveis em neurotrofinas e dano oxidativo a lipídeos. Um número menor de estudos mostra alterações no sistema imune, em particular estados pró-inflamatórios. CONCLUSÃO: Alterações sistêmicas que correlacionam o transtorno bipolar a comorbidade clínica, disfunção cognitiva, incapacidade e mortalidade precoce começam a ser traçadas. Estudos envolvendo desenhos longitudinais, amostras populacionais e ensaios clínicos envolvendo marcadores periféricos devem ser incorporados no futuro próximo e reforçar a validade de uma noção de envolvimento multissistêmico no transtorno bipolar.
INTRODUCTION: The understanding of the pathophysiology of bipolar disorder has steadily advanced in the past few years. Thereby, a focus on allostatic load and systemic changes has appeared, with the aim to understand illness progression. Amongst the peripheral markers, molecules that can be widely classified into neurotrophins, oxidadive stress markers, and inflammation markers have been elevated. OBJECTIVE: To describe recent findings regarding the systemic pathophysiology of bipolar disorder, with a special focus on Brazilian studies and to create a coherent view of the current knowledge in the field. METHOD: Narrative review of the literature regarding neurotrophins, oxidative stress, and inflammatory markers in bipolar disorder. RESULTS: A diverse body of evidence, based on both pre-clinical and clinical studies, reveals consistent systemic changes in bipolar disorder. The findings are particularly robust in patients after multiple episodes. Thereby, remarkable changes related to manic and depressive episodes were found in neurotrophins and oxidative damage to lipids. Regarding to immune system alterations, in particular pro-inflammatory states, the literature is less consistent. DISCUSSION: Systemic changes that link bipolar disorder to clinical comorbidity, cognitive dysfunction, disability and early mortality are becoming evident. In the near future, longitudinal studies with population-based samples and clinical trials incorporating biomarkers are needed to shed light upon the notion of a multisystem involvement in bipolar disorder.