RESUMO Os palácios inquisitoriais, sedes dos tribunais do Santo Ofício, não eram apenas elementos arquitetônicos utilitários, mas assumiram uma relevância simbólica no seio da sociedade portuguesa do Antigo Regime. Isso ainda era mais forte em Lisboa, onde além de tribunal distrital, os Estaus também eram a sede do Conselho Geral e a residência do inquisidor geral. Neste artigo, pretendemos mostrar a importância do tribunal inquisitorial enquanto locus de afirmação social, a partir do exemplo de um daqueles que eram chamados de oficiais leigos da Inquisição (alcaide, meirinho, guardas etc.) e que, via de regra, assim como o inquisidor geral, residiam nos Estaus. No entanto, também mostraremos que essa importância ia mais além da simples certificação da pureza de sangue e que ela se entende apenas no âmbito de estratégias sociais mais amplas do indivíduo e de sua família.
ABSTRACT Inquisitorial palaces, the court's headquarters, were not mere elements of useful architecture but had a symbolic relevance among Portuguese Ancien Régime's society. This is even more noticeable in Lisbon, where, besides being the district's tribunal, the Estaus (as it was called) were also headquarters to the Inquisition's Council General, and residence to the inquisitor general. In this article, we intend to show the importance of the Inquisition as locus of social assertion through the example of one of the lay officials of the Inquisition (wardens, bailiffs, guards etc.). Usually, as the inquisitor general, they also dwelled in the Estaus. Nevertheless, we will also see that this importance surpassed the simple certification of purity of blood, and is only understandable within the person's and his family's broader social strategies.