Resumo Estudos acerca do contato linguístico permitem observar hierarquias de acessibilidade a palavras de diferentes classes que possam ocorrer como empréstimos. Essas hierarquias indicam, por exemplo, que nomes são mais facilmente transferidos de uma língua para outra do que verbos e estes podem ser inseridos na língua-alvo como verbos, quando há adaptação morfológica, ou como partículas, quando há inserção direta. Neste artigo, apresenta-se o caso de quatro expressões verbais do Português que foram introduzidas em Nheengatú, língua geral amazônica em contato com o Português desde o século XVI, como partículas de modalidade deôntica – tenki de ‘tem que’ e presizu de ‘é preciso’ – e como marcadores de sentenças interrogativas – será de ‘será’, e seraki ‘será que’. Para tanto, primeiramente, apresentam-se os critérios que permitem distinguir uma classe de partículas em Nheengatú, para, em seguida, aplicá-los às partículas de origem verbal emprestadas do Português. Esta análise corrobora os estudos que indicam que marcadores de modalidade são mais facilmente acessíveis a ocorrerem como empréstimos linguísticos do que outras formas de tempo, aspecto e modo (TAM). No entanto, no Nheengatú, observa-se que expressões de modalidade epistêmica podem ser adaptadas na língua-alvo como marcadores gramaticais de sentenças interrogativas, considerados mais difíceis de ocorrerem como empréstimos.
Abstract Studies on language contact allow us to observe borrowing hierarchies to the different words classes of a language. These hierarchies indicate, for instance, that nouns are more easily transferred from one language to another than verbs, which can be inserted into the target language as verbs, with morphological adaptation, or as particles. In this article, we present the case of four verbal expressions of Portuguese that were introduced in Nheengatú, the Amazonian língua geral in contact with Portuguese since the 16th century, as particles of deontic modality – tenki from ‘tem que’ and presizu from ‘é preciso’ – and as question markers – será from ‘será’, and seraki from ‘será que’. For this purpose, we first introduce the criteria for distinguishing a class of particles in Nheengatú, then apply them to verbal particles borrowed from Portuguese. This analysis corroborates studies indicating that modality markers are higher in borrowing hierarchies than other forms of TAM. However, in the Nheengatú, we observe that expressions of epistemic modality can be adapted in the target language as grammatical markers of interrogative sentences, considered more difficult to occur as loans.