RESUMO: Ionóforos são antibióticos poliéteres utilizados na produção animal para ruminantes e aves para promover o crescimento e exercer ação coccidiostática. Apesar dos benefícios de seu uso, intoxicações também foram relatadas em diversas espécies. Os equídeos são muito sensíveis e a maioria dos casos envolve ingestão inadequada de alimentos destinados a ruminantes. Este trabalho descreve um surto de intoxicação por ionóforo em sete cavalos e um burro que ingeriram concentrado de gado, confirmado por método de diagnóstico inovador. Um cavalo de seis anos de idade apresentou sinais clínicos de sialorreia, sudorese, ataxia, prostração, anorexia, tremores musculares, decúbito lateral, decúbito lateral, iniciados no dia anterior. Foram realizados exames laboratoriais e eletrocardiograma, que evidenciaram aumento da atividade de AST e CK, além de taquicardia ventricular. Devido à gravidade do quadro, o paciente foi eutanasiado no dia da internação, sendo realizada necropsia, na qual foram examinados tecidos musculares esqueléticos e cardíacos. A histologia revelou necrose multifocal em cardiomiócitos, necrose, edema e hemorragia no músculo esquelético. Foi realizada visita à propriedade para avaliação de outros animais e coleta de amostras para exames laboratoriais. Todos os cinco animais restantes foram submetidos a exame físico, dois dos quais apresentaram sinais clínicos graves. Três animais apresentaram anemia normocítica normocrômica, quatro apresentaram aumento da creatinina, dois apresentaram aumento de atividade de AST e todos apresentaram aumento de atividade de CK. Entre os demais animais intoxicados, dois morreram na propriedade. A amostra de fígado do primeiro cavalo eutanasiado foi examinada por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa, identificando 51,59 µg/kg de monensina. Conclui-se que, apesar da recuperação dos animais, a ação tóxica do ionóforo pode causar lesões que afetam a saúde e o bem-estar do animal. A viabilidade da análise cromatográfica é essencial para um diagnóstico definitivo e deve ser posteriormente desenvolvida juntamente com valores de referência para resíduos teciduais e limite máximo tolerável.
ABSTRACT: Ionophores are polyether antibiotics used in animal production for ruminants and birds to promote growth and exert coccidiostat action. Despite the benefits of their use, poisonings have also been reported in several species. Equines are very sensitive, and most cases involve mistaken intake of feed intended for ruminants. This research described an outbreak of ionophore poisoning in seven horses and a mule that ingested livestock concentrate, confirmed by a chromatographic diagnostic method. A six-year-old horse was presented with clinical signs of sialorrhea, sweating, ataxia, prostration, anorexia, muscle tremors, lateral recumbency, posterior lateral decubitus, which began the day before. Laboratory tests showed increased AST (aspartate aminotransferase) and CK (creatine kinase) activities. Electrocardiogram revealed ventricular tachycardia. Due to the severity of the condition, the patient was euthanized on the day of admission, and a necropsy was performed, in which skeletal and cardiac muscle tissues were collected. Histology revealed multifocal necrosis in cardiomyocytes, necrosis, edema and hemorrhage in skeletal muscle. A visit was made to the property to evaluate other animals and collect samples for laboratory tests. All remaining animals underwent physical examination, two of which showed serious clinical signs. Three animals showed normocytic normochromic anemia, four increased creatinine, two had increased AST activity and all had increased CK activity. Among the poisoned animals, two died on the property. Liver sample from the first euthanized horse was examined by liquid chromatography coupled with mass spectrometry, identifying 51.59 µg/kg of monensin. It is concluded that, despite the recovery of the animals, the toxic action of the ionophore can cause injuries that affect equine health and welfare. The feasibility of chromatographic analysis is essential for a definitive diagnosis and must be subsequently developed together with reference values for tissue residues and maximum tolerated doses.