A bioética, como ramo da filosofia que enfoca as questões relativas a saúde e a vida humana, está intimamente ligada à idéia de justiça e igualdade. Desta forma, entendendo o conceito de igualdade em sua acepção original, ou seja, associando-o à idéia de tratar desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades, observamos que a denominada "lista única de espera" para transplantes, prevista na Lei 9.434/97, acaba por se afastar do conceito de igualdade e justiça, norteadores da bioética, mesmo considerando os critérios objetivos de precedência previstos na Portaria n.o 3.407/98. Assim, a organização dos transplantes em lista única de espera, com tímidas exceções para alguns casos, sem a análise técnica e fundamentada, caso por caso, quanto à necessidade preeminente, acaba institucionalizando desigualdades, relegando os pacientes à própria sorte e apartando-se, assim, da ratio legis, que visa buscar maior justiça no que tange ao transplante de órgãos. Concluímos, então, a partir da análise da legislação e dos princípios da bioética e justiça, pela necessidade da criação de um colegiado de médicos experts, que baseados em critérios técnicos e de forma fundamentada, possam analisar cada caso para fins de inclusão na lista de espera, de acordo com a necessidade e preeminência, evitando-se, assim, que pessoas em situações desiguais sejam tratadas igualmente.
Bioethics, as a branch of philosophy that focuses on questions relative to health and human life, is closely tied to the idea of justice and equality. As such, in understanding the concept of equality in its original sense, that is, in associating it to the idea to treat "unequals" (those who are unequal or different, in terms of conditions or circumstances) unequally (differentially), in proportion to their inequalities (differences), we see that the so-called "one-and-only waiting list" for transplants established in law no. 9.434/97, ends up not addressing the concept of equality and justice, bearing upon bioethics, even when considering the objective criteria of precedence established in regulation no. 9.4347/98, Thus, the organizing of transplants on a one-and-only waiting list, with a few exceptions that are weakly applicable, without a case by case technical and grounded analysis, according to each particular necessity, ends up institutionalizing inequalities, condemning patients to happenstance and, consequently, departs from the ratio legis, which aims at seeking the greatest application of justice in regards to organ transplants. We conclude, therefore, that from an analysis of the legislation and of the principles of bioethics and justice, there is a need for the creation of a collegiate of medical experts, that, based on medical criteria and done in a well established manner, can analyze each case to be included on the waiting list, deferentially and according to the necessity; thus, precluding that people in special circumstances be treated equal to people in normal circumstances.