Resumo O presente artigo analisa a relação entre as empresas e a ditadura brasileira imposta com o golpe de 1964. No entanto, não tratamos - como é mais comum - das relações de apoio, composição e favorecimento entre grupos econômicos e o regime, mas sim das organizações empresariais que foram perseguidas e penalizadas pelas ações do aparelho de Estado após o golpe. Para proceder à abordagem, utilizamos memórias, testemunhos, documentos oficiais e matérias da imprensa do período. Partimos do entendimento de Dreifuss e da historiografia recente de que o golpe de 1964 e a ditadura tinham um perfil de classe, sendo marcados por significativas participação e responsabilidade por parte do empresariado. Em uma primeira parte do artigo, tratamos de casos conhecidos, como o da Panair, da TV Excelsior e dos jornais Correio da Manhã e Última Hora. Em seguida, abordamos casos menos estudados que dizem respeito a empreiteiras de obras públicas que passaram por um processo de decadência após o golpe de 1964 por motivos políticos. Concluímos que, mais do que uma simples ação de um Estado autoritário contra grupos econômicos, os casos analisados podem ser lidos nos marcos da concorrência entre as próprias empresas, com a ação estatal em favor de algumas em desproveito de outras.
Abstract Thisarticle analyzes the relationship between companies and the Brazilian dictatorship established after the 1964 coup d’état. Instead of focusing on the more common instances of support, partnership, and leverage between economic groups and the regime, we examine companies which were persecuted and penalized by state actions following the coup. To support our approach, we draw on a range of sources, including memoirs, testimonies, official documents, and press materials from the period. Building on Dreifuss’ insights and recent historiography, we argue that the 1964 coup d’état and the subsequent dictatorship had a class character, marked by significant participation and responsibility of the business community. In the first part of the article, we examine well-known cases, such as Panair, TV Excelsior and the newspapers Correio da Manhã and Última Hora. We then turn to lesser-studied cases involving public works contractors who suffered decline due to political reasons after the 1964 coup d’état. We conclude that, more than simple actions of an authoritarian state against economic groups, the cases we analyze suggest competition between companies and state action in favor of some to the detriment of others.