O presente artigo estuda as taxonomias de doenças de dois povos indígenas da região do Alto Rio Negro, Noroeste amazônico (Brasil): os Baniwa, da família lingüística arawak, e os Desana, da família lingüística tukano oriental. Tomando como base explicativa a produção mítica dessas etnias, as autoras comparam seus sistemas de doença e cura e demonstram que as circunstâncias ligadas ao surgimento de uma doença particular, as representações de pessoa e do mundo natural, e as modalidades de relação entre os grupos humanos, a natureza e o cosmos, participam da interpretação da doença. Essa ênfase na causalidade social e/ou com a ordem do mundo traduz-se na terminologia vernacular e na classificação das doenças em ambos os grupos estudados. A produção do processo patogênico liga-se a uma "economia simbólica da alteridade" (Viveiros de Castro, 2002). Promover a saúde e evitar a doença exigem cooperação, reciprocidade, diligência, controle das ações predatórias e do apetite alimentar e sexual.
The present paper studies the disease taxonomies on two indigenous peoples from the upper Negro River region, in the Amazonian northwest (Brazil), the Baniwa, from the Arawak, and the Desana, from the oriental Tukano linguistic families. Taking these ethnies' mythic production as an explicative basis, the authors make comparisons between their disease and cure systems and demonstrate that the circumstances linked to the outbreak of a particular disease, the representation of people and of the natural world, and the modalities of relations between human groups, nature and the cosmos, participate on the disease's interpretation. Both studied groups translate this emphasis on social causality and/or world order into the vernacular terminology and disease classification. The pathogenic process production is linked to an "alteration symbolic economy" (Viveiros de Castro, 2002). Promoting good health and preventing disease, requires cooperation, reciprocity, diligence, predatory actions and feeding and sexual appetite controlling.