OBJETIVOS: Determinar a prevalência de depressão maior em uma população de sujeitos acima de 80 anos residentes na comunidade, comparar os padrões de sono e a função cognitiva entre controles normais e sujeitos com depressão maior e estimar a freqüência de outros transtornos psiquiátricos entre controles e sujeitos deprimidos. MÉTODOS: De uma população de 219 habitantes com mais de 80 anos, residentes em um município semi-rural no sul do Brasil (município de Veranópolis, RS), selecionou-se uma amostra randômica e representativa de 77 sujeitos (35%). Desse grupo, 5 sujeitos que apresentavam critérios de DSM-IV para depressão maior foram comparados com 50 controles sem diagnóstico de demência, delirium ou qualquer transtorno do humor. Os padrões de sono foram avaliados pelo Índice de Pittsburgh de Qualidade do Sono e por um diário do ciclo sono/vigília completado ao longo de duas semanas. Para a avaliação cognitiva, foram usados 5 testes neuropsicológicos: teste de lembranças seletivas de Buschke-Fuld; teste lista de palavras da bateria do CERAD; teste de fluência verbal; e 2 subtestes da bateria de memória de Wechsler. RESULTADOS: A prevalência de depressão maior foi de 7,5%. Sujeitos com esse diagnóstico, quando comparados a sujeitos do grupo-controle, apresentavam mais freqüentemente comorbidade com transtorno de ansiedade generalizada, usavam mais benzodiazepínicos e tinham uma pior qualidade de vida pela escala "Short-form 36". Os idosos deprimidos, quando comparados aos controles, tinham os mesmos padrões de sono e apresentavam o mesmo desempenho nos testes neuropsicológicos. CONCLUSÃO: Os resultados corroboram o conceito de que episódios depressivos são freqüentes entre idosos com mais de 80 anos, causando impacto sobre a qualidade de vida associada à saúde e cursando comorbidade freqüente com transtorno de ansiedade generalizada. Entre os idosos octogenários residentes na comunidade, a depressão maior não aparecia clinicamente sob a forma de "pseudodemência" depressiva e nem tinha impacto sobre os padrões de sono.
OBJECTIVES: To determine the prevalence of major depression in a community-dwelling population aged 80 years or more. The secondary objective was to compare this population's sleep patterns, cognitive function and frequency of other psychiatric disorders with a normal control group and other subjects with major depression. METHODS: A representative sample of 77 subjects (35%) aged 80 years or more was randomly selected from the rural southern county of Veranopolis, Brazil. Of them, 5 subjects met the DSM-IV criteria for major depression disorder and 50 control subjects (without dementia, delirium or any mood disorder) were compared. Sleep patterns were assessed using the Pittsburgh Sleep Quality Index and a 2-week-sleep/wake diary. Five neuropsychological tests (the Buschke-Fuld Selective Reminding Test, the CERAD battery word list, the Verbal Fluency Test, and two sub-tests of the Wechsler memory scale) were used for cognitive evaluation. RESULTS: The point prevalence rate for major depression was 7.5%. When compared to the control group, subjects with major depression had a higher frequency of generalized anxiety disorder as a comorbid condition, used more benzodiazepines and had a worse life quality according to the Short-form 36 scale. Depressed elderly people showed the same sleep patterns, and performed in the same manner in the cognitive tests as controls. CONCLUSION: The results corroborate the hypothesis that major depressive disorder is frequently found among the elderly population aged 80 or more. This disorder causes impact on life quality concerning health, and often occurs in association with generalized anxiety disorder. Among elderly aged 80 or more living in this community, major depression neither manifested as a form of depressive pseudo-dementia, nor did it have any impact on sleep patterns.