Resumo Este trabalho explora o papel da feitiçaria - e em particular das acusações dirigidas a crianças - nas reconfigurações sociais que têm marcado, desde 2002, o pós-guerra civil em Angola. Destaca, por um lado, a forma como a problemática social das "crianças-feiticeiras" se articula intimamente com a etnopolítica bakongo e com o debate sobre o lugar desta etnia na sociedade angolana; por outro, revela que, longe de serem elementos passivos nesse processo, as próprias crianças podem instrumentalizar as acusações como forma de aceder a recursos e oportunidades que lhes permitam ascender socialmente. Desta forma, vai ao encontro de outros estudos que, nas últimas décadas, identificam transformações profundas no estatuto da infância e juventude em vários contextos de crise pós-Guerra Fria na África Ocidental. Este trabalho partiu de uma etnografia dos processos de reintegração social e familiar de crianças acusadas de feitiçaria acolhidas em instituições missionárias católicas na capital, Luanda, e em Mbanza Kongo, na província angolana do Zaire.
Abstract This article explores the role of witchcraft, and in particular of accusations directed against children, in the social reconfigurations that, since 2002, have characterized the post-civil war period in Angola. On the one hand, it highlights the way in which the "witch children" phenomenon, perceived as a social problem, is closely related to bakongo ethnopolitics and with the debate on the place of this ethnic group in Angolan society. On the other, it reveals that, far from being passive elements in this process, children can themselves use accusations as a way to access resources and opportunities that allow them to ascend socially. In this way, the article echoes other studies which, in the last few decades, have identified profound transformations in the status of children and young people in different contexts of the post-Cold War crisis in West Africa. It starts from an ethnography of the social and family reintegration processes of children accused of witchcraft sheltered at Catholic missionary institutions in the capital, Luanda, and Mbanza Kongo, in the Angolan province of Zaire.
Resumen Este trabajo explora el papel de la hechicería, y en particular de las acusaciones dirigidas hacia niños, en las reconfiguraciones sociales que han marcado, desde 2002, el posguerra civil en Angola. Destaca, por un lado, cómo los problemas sociales de los "niños hechiceros" están estrechamente vinculados con la etnopolítica Bakongo y con el debate sobre el lugar de este grupo étnico en la sociedad angoleña; por otro lado, revela que, lejos de ser elementos pasivos en este proceso, los propios niños pueden usar las acusaciones como una forma de acceder a recursos y oportunidades que les permiten ascender socialmente. De esta manera, el presente artículo dialoga con otros estudios que, en las últimas décadas, han identificado profundas transformaciones en el status de los niños y jóvenes en diversos contextos de la África Occidental durante la crisis que siguió a la Guerra Fría. Este trabajo partió de una etnografía de los procesos de reintegración social y familiar de los niños acusados de hechicería recibidos en instituciones misioneras católicas en la capital, Luanda, y en Mbanza Kongo, en la provincia angoleña de Zaire.