Resumo: Este ensaio busca problematizar a alimentação escolar enquanto prática que contribui para a constituição de identidades escolares. Parte-se de uma revisão bibliográfica, não sistemática, de publicações sobre alimentação escolar e identidades no contexto das escolas públicas brasileiras. Discute-se, inicialmente, a persistência de discursos e práticas de caráter assistencialista que reduziam a alimentação escolar a uma comida para pobres, questão observada nos estudos. Os significados desse caráter assistencialista concorrem para o entendimento de que ele parece funcionar como um mecanismo de poder capaz de inscrever, nos escolares, uma identidade de pobreza e inferioridade. Esse entendimento é situado nas relações de poder existentes na escola, no exercício do poder disciplinar e seu potencial de produzir identidades, assim como nas práticas de resistência decorrentes desses poderes no contexto da alimentação escolar. Considera-se ainda que os escolares sejam agentes de seus próprios processos identitários, haja vista que, em sua relação com a alimentação escolar, evidenciam-se, além de processos de sujeição, também processos de resistência e de construção ativa de identidade alimentar, nos quais agregam o tradicional e o moderno, o local e o global, dentre outros aspectos. Mesmo que ambiguidades sejam percebidas nesse cenário, entende-se que são indícios de mudanças no paradigma do pensar e fazer a alimentação escolar, trazendo elementos para problematizá-la: de um lado, ainda como um dispositivo de manutenção das desigualdades sociais e, de outro, esforços e ações para propiciá-la como um direito e promotora de identidades emancipatórias.
Abstract: This essay aims to analyze school feeding as a practice contributing to the establishment of school identities. The point of departure is a nonsystematic review of publications on school feeding and identities in Brazil’s public schools. The discussion begins with the persistence of paternalistic discourses and practices that reduce school feeding to food for the poor, observed in the studies. The meanings in this paternalistic approach suggest that it appears to function as a power mechanism to brand the schoolchildren with an identify of poverty and inferiority. This understanding is situated in the prevailing power relations in schools, in the exercise of disciplinary power and its potential to produce identities, as well as the practices of resistance resulting from such power in the school feeding context. The schoolchildren are also agents of their own identity processes, considering that their relations with school feeding involve processes not only of subordination but also of resistance and active identity-building, combining the traditional with the modern, the local with the global, among other aspects. Even the ambiguities in this scenario are signs of a paradigm shift in the planning and practice of school feeding, raising elements to analyze it: on the one hand, as a device for the maintenance of social inequalities, and on the other, efforts and actions to support school feeding as an essential right and factor for emancipatory identities.
Resumen: Este estudio busca problematizar la alimentación escolar, como práctica que contribuye a la configuración de identidades escolares. Se parte de una revisión bibliográfica, no sistemática, de publicaciones sobre alimentación escolar e identidades en el contexto de las escuelas públicas brasileñas. Se discute, inicialmente, la persistencia de discursos y prácticas de carácter asistencialista, que reducían la alimentación escolar a una comida para pobres, cuestión observada en diversos estudios. El concepto de ese carácter asistencialista concurre hacia la comprensión del fenómeno y su interpretación, como un mecanismo de poder capaz de adscribir a los escolares una identidad de pobreza e inferioridad. Esta interpretación está imbricada en las relaciones de poder existentes en la escuela, en el ejercicio del poder disciplinario y su potencial de producir identidades, así como en las prácticas de resistencia, provenientes de esos poderes en el contexto de la alimentación escolar. Se considera incluso que los escolares sean agentes de sus propios procesos identitarios, a la vista que, en su relación con la alimentación escolar, se evidencian, además de procesos de subordinación, también procesos de resistencia y de construcción activa de identidad alimentaria, en los que se agrega lo tradicional y lo moderno, lo local y lo global, entre otros aspectos. A pesar de que se perciban ambigüedades en este escenario, se entiende que son indicios de transformaciones en el paradigma de la conceptualización y puesta en práctica de la alimentación escolar, llevando consigo elementos para problematizarla: por un lado, todavía, como dispositivo de soporte de las desigualdades sociales y, por otro, los esfuerzos y acciones para propiciarla como un derecho y como promotora de identidades emancipadoras.