Resumo No século XXI, o fluxo emigratório internacional de brasileiros se modificou quanto a sua direção, intensidade e natureza. Nesse cenário, ocorreu um incremento significativo da participação das mulheres. Diferentemente dos movimentos migratórios que desde a segunda metade do século XX se dirigiam majoritariamente para Estados Unidos, Japão e Paraguai, há, mais recentemente, uma intensificação do movimento rumo ao continente europeu. O presente artigo propõe analisar a mobilidade entre o Brasil e a Europa das mulheres brasileiras que estabelecem relações de afeto com homens europeus nos países de imigração e como negociam gênero e raça nas representações sobre a “mulher brasileira”. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que, a partir de dois bancos de dados de pesquisas realizadas com 46 mulheres, selecionou quatro entrevistas semiestruturadas para refletir sobre os processos de transnacionalização e percepção das marcas da racialização e exotização que as mulheres brasileiras vivenciam ao longo de suas experiências migratórias. Essa reflexão permitiu considerar que as mulheres participantes deste estudo, quando estabelecem relações de conjugalidade com portugueses, alemães ou italianos, repensam seus projetos migratórios em função das condições que as relações de afeto estabelecem, negociam posições de gênero, enfrentam os processos de racialização e sexualização e constroem outros significados para imaginários associados à “mulher brasileira”.
Abstract In the 21st century, the international migration flow of Brazilians has changed in terms of its direction, intensity, and nature and there has been a significant increase in the participation of women. Unlike migratory movements that in the second half of the 20th century had mostly been directed to the United States, Japan, and Paraguay, there has been an intensification of the movement towards Europe. This article analyzes the mobility between Brazil and Europe of Brazilian women who establish affectionate relationships with European men, and how they negotiate gender and race in the representations of “Brazilian women.” It is a qualitative study that, based on two databases of research carried out with 46 women, selected 4 semi-structured interviews to reflect on processes of transnationalization and perception of the marks of racialization and exoticization that Brazilian women experience during their migratory experiences. This reflection allowed us to consider that the women participating in this study, when they establish conjugal relationships with Portuguese, Germans, or Italians, rethink their migratory projects according to the conditions that the affective relationships establish, negotiate gender positions, face the processes of racialization and sexualization, and elaborate other meanings for imaginaries associated with “Brazilian women.”