Este artigo tem a finalidade de examinar o modelo pioneiro de "World Englishes" proposto por Kachru a partir da década de 80 do século passado que aloca a presença de inglês no mundo em três círculos concêntricos: em primeiro lugar, o círculo interno (Reino Unido, Estados Unidos) onde a língua inglesa funciona como uma L1 (ou língua nativa); em segundo lugar, no círculo externo (Índia, Nigéria) onde o idioma foi impingido aos povos subjugados pelo poderio britânico; e em terceiro lugar, no círculo em expansão (China, Brazil) onde o inglês é estudado como língua estrangeira. Os pesquisadores no campo dos estudos da linguagem tendem a exigir demais do modelo de Kachru esperando que desvende nos diferentes círculos: (i) o nível de proficiência dos falantes, (ii) a variação que existe entre as diferentes variedades do idioma e (iii) como os diferentes usuários se apropriam do inglês para o desempenho de suas atividades diárias. Pung (2009) sugere, por um lado, de "ir além" do modelo de três círculos com base na sua proposta de um Modelo Cônico de Inglês (Conical Model of English (CME) enquanto, por outro lado, Park e Wee (2009) afirmam que os modelos não oferecem "uma eficiência mágica no questionamento das ideologias dominantes do Inglês" (tradução minha) e acrescentam que são os seres humanos que realizam mudanças no mundo e não os modelos. Com base na cautela por parte de Park e Lee com respeito à problemática de modelos e ao invés da postura de Pung de "ir além" do conhecido modelo idealizado por Kachru, a finalidade deste trabalho é a de olhar por baixo do referido modelo, especificamente o círculo interno, isto é, o suposto "domínio do falante nativo". Argumentamos nesta reflexão que os círculos funcionam como um palimpsesto que apaga e ignora o que sucedera no passado, linguística, histórica e culturalmente, antes do surgimento do Inglês que esse idioma ocupa atualmente nos círculos interno, externo e em expansão. Um exame de tempos e dias passados com um enfoque no círculo interno kachruviano pode apresentar um espelho para examinar; (i) preconceito contra bilinguismo e multilinguismo, (ii) migração de seres humanos e o tratamento de imigrantes, (iii) respeito (ou falta de) dos direitos linguísticos e culturais de minorias e (v) a hegemonia do Inglês com relação a outras línguas- temas que nos preocupam hoje e também nos anos vindouros.
This paper examines the pioneering model of World Englishes formulated by Kachru in the early 1980s that allocates the presence of English into three concentric circles: first of all, the inner circle (Great Britain, the USA) where the language functions as an L1 (or native language); secondly, the outer circle (India, Nigeria) where the language was forced upon the subjugated people by Britain; thirdly, the expanding circle (China, Brazil) where English is studied as a foreign language. Researchers in the area of language studies tend to put too much store in Kachru's model expecting it to expose the different circles: (i) the proficiency level of the speakers, (ii) the variation that exists in the different dialects of the language, and (iii) how the many users appropriate the language to perform their daily routine. Pung (2009) suggests "going beyond" the three circle model with his proposal of a Conical Model of English (CME), while Park and Wee (2009, p.402) state that models have no "magical efficacy in challenging dominant ideologies of English" and that change in the world is not brought about by models but my people. Based on Park and Lee's caution with regard to models, and in lieu of Pung's "going beyond" the well-known Kachruvian model, the thrust of this article is to look specifically under the inner circle, that is, the supposed "native speaker domain". It will be argued in this paper that the circles function as a palimpsest erasing and ignoring what happened in the past linguistically, historically and culturally before the appearance of English in the spaces that the language occupies at the present time in the inner, outer, and expanding circles. An examination of days gone-by, with a focus on Kachru's inner circle, can present a mirror to examine: (i) bilingual (multilingual) biases, (ii) migration of peoples and treatment of immigrants, (iii) respect (or lack of) for the linguistic and cultural rights of minorities, and (iv) the hegemony of English in relation to other languages - issues that concern us today and will continue to do so in the coming years.