Resumo Discussões sobre o papel de profissionais da Psicologia na escuta de alegações de violência sexual contra crianças e adolescentes têm emergido em todo país. Escuta especializada, depoimento especial e perícia psicológica são procedimentos previstos na legislação brasileira em diferentes momentos de uma alegação de violência sexual, dentro do Sistema de Garantia de Direitos. Enquanto os dois primeiros podem contar com profissionais de outras áreas, a perícia psicológica é atribuição privativa dos psicólogos. Tendo em vista que a principal fonte de informações sobre os eventos alegados é a criança, este artigo de revisão narrativa tem como objetivo discutir a escuta do psicólogo/a sobre alegações de violência sexual nos contextos da escuta especializada, do depoimento especial e da perícia psicológica. O artigo também tem como objetivo apresentar diretrizes gerais para entrevistas com crianças e adolescentes, consideradas na literatura como boas práticas nesse campo de atuação. Considerando a entrevista como o ponto comum entre esses três procedimentos, recomenda-se o uso de questões abertas, preparação do local em que a entrevista será conduzida e o uso de protocolos empiricamente validados para obtenção do relato sobre o evento alegado. Observou-se que tanto na literatura especializada como na legislação brasileira ainda se faz necessário esclarecer a operacionalização de “escuta especializada”, pois pode dificultar a atuação efetiva dos profissionais que atuam em serviços de proteção e atendimento a crianças e adolescentes.
Abstract Discussions about the role of psychologists in listening to allegations of sexual violence against children and adolescents have emerged across the country. Specialized listening, special testimony, and an expert legal psychological report are procedures provided for in Brazilian law at different steps of an allegation of sexual violence within the System of Guarantee of Rights. While the first 2 can rely on professionals from other fields, the expert legal psychological report is the private responsibility of psychologists. Given that the main source of information about the alleged events is the child, this narrative review article aims to discuss the psychologist’s listening to allegations of sexual violence in the contexts of specialized listening, special testimony, and expert legal psychological report. The article also aims to present general guidelines for interviews with children and adolescents, considered in the literature as good practices in this field. Considering the interview as the common point between these 3 procedures, it is recommended the use of open questions, preparation of the place where the interview will be conducted, and the use of empirically validated protocols to obtain the report of the alleged event. It was observed that in the specialized literature as well as in the Brazilian legislation, it is still necessary to elucidate the operationalization of ‘Specialized Listening’, as it can hinder the effective performance of professionals working in protection and care services for children and adolescents.
Resumen Las discusiones sobre el papel de los profesionales de la psicología en la escucha de las denuncias de violencia sexual contra niños y jóvenes han surgido en todo el país. La escucha especializada, el testimonio especial y la pericia psicológica son procedimientos previstos en la legislación brasileña en momentos distintos de una denuncia de violencia sexual dentro del Sistema de Garantía de Derechos. Si bien los dos primeros pueden confiar en profesionales de otros campos, la evaluación psicológica (pericia psicológica) es la tarea privada del psicólogo. Dado que la principal fuente de información sobre los supuestos eventos es el niño, este artículo de revisión narrativa tiene como objetivo discutir la escucha del psicólogo en las denuncias de violencia sexual en los contextos especializados, testimonio especial y evaluación psicológica (pericia psicológica). El artículo también tiene como objetivo presentar directrices generales para entrevistas con niños y jóvenes, consideradas en la literatura como buenas prácticas en este campo. Considerando la entrevista como el punto común entre estos tres procedimientos, se recomienda el uso de preguntas abiertas, la preparación del lugar donde se realizará la entrevista y el uso de protocolos empíricamente validados para obtener el evento informado. Se observó que, en la literatura especializada, así como en la legislación brasileña, aún es necesario aclarar la operacionalización de la ‘Escucha Especializada”, ya que puede obstaculizar el desempeño efectivo de los profesionales que trabajan en los servicios de protección y cuidado para niños y jóvenes.