Resumo A matriz teórica proposta por Pierre Marty e outros analistas da Escola de Psicossomática de Paris (EPP) é, atualmente, o modelo hegemônico de abordagem do adoecimento somático em Psicanálise. Tal matriz está alicerçada na hipótese de que a doença orgânica estaria associada a uma insuficiência da capacidade de elaboração psíquica. Sándor Ferenczi, Georg Groddeck e Donald Winnicott formularam concepções sobre o adoecimento somático que não se coadunam com o modelo francês. O objetivo deste artigo é cotejar as contribuições desses autores a fim de demonstrar que elas revelam a existência de outra matriz de compreensão do adoecimento somático em Psicanálise. Foi realizado um estudo teórico-conceitual por meio da análise de alguns textos dos três autores que tratam direta ou indiretamente do adoecimento somático e das relações entre corpo e psique. A investigação evidenciou que os autores apresentam três principais pontos de convergência entre si: (1) uma concepção monista do indivíduo na qual corpo e psique são entendidos como expressões concomitantes de uma realidade integral; (2) a compreensão da psique não como uma máquina de descarregar excitações, mas como um movimento produtivo ininterrupto, que promove continuamente uma elaboração imaginativa do corpo; e (3) o entendimento de que o adoecimento é um fenômeno relacional, que só pode ser adequadamente compreendido à luz da história e do contexto atual do indivíduo. Esses três pontos constituem-se nos pilares de uma matriz teórica que, diferentemente da matriz francesa, enfatiza a complexidade do adoecimento somático e está alinhada com um modelo integral de cuidado em saúde.
Abstract The framework proposed by Pierre Marty and other analysts of the Paris Psychosomatic School is currently the hegemonic model of approach to somatic illness in Psychoanalysis. This framework is based on the hypothesis that organic disease would be associated with an insufficiency of the psychic elaboration capacity. Authors such as Sándor Ferenczi, Georg Groddeck and Donald Winnicott formulated conceptions about somatic illness that do not fit the French model. The objective of this article is to compare the contributions of these authors indicating that they reveal the existence of another framework of understanding of somatic illness in Psychoanalysis. A theoretical-conceptual study was carried out through the analysis of some texts of the three authors directly or indirectly related to somatic illness and the relationship between body and psyche. Research has shown that the conceptions of the authors present three main points of convergence: (1) a monistic conception of the individual in which body and psyche are understood as concomitant expressions of an integral reality; (2) the understanding of the psyche not as a machine of unloading excitations, but as an uninterrupted productive movement, which continually promotes an imaginative elaboration of the body; and (3) the understanding that illness is a relational phenomenon, which can only properly be understood in the light of the individual’s history and current context. These three points constitute the pillars of a framework that, unlike the French framework, emphasizes the complexity of somatic illness and is aligned with a health comprehensive model approach.
Resumen La matriz teórica propuesta por Pierre Marty y otros analistas de la Escuela de Psicosomática de París (EPP) es, actualmente, el modelo hegemónico de abordaje de la enfermedad somática en Psicoanálisis. Esta matriz se basa en la hipótesis de que la enfermedad orgánica estaría asociada a una insuficiencia de la capacidad de elaboración psíquica. Sándor Ferenczi, Georg Groddeck y Donald Winnicott formularon concepciones sobre la enfermedad somática que no se ajustan al modelo francés. El objetivo de este artículo es cotejar las contribuciones de estos autores indicando que ellas revelan la existencia de otra matriz de comprensión de la enfermedad somática en Psicoanálisis. Se realizó un estudio teórico-conceptual por medio del análisis de algunos textos de los tres autores relacionados directa o indirectamente del enfermo somático y de las relaciones entre cuerpo y psique. La investigación mostró que las concepciones de los autores tienen tres puntos principales de convergencia entre sí: (1) una concepción monista del individuo en el que el cuerpo y la psique se entienden como expresiones concomitantes de una realidad integral; (2) la comprensión de la psique no como una máquina de descargar excitaciones, sino como un movimiento productivo ininterrumpido, que promueve continuamente una elaboración imaginativa del cuerpo; y (3) el entendimiento de la enfermedad como un fenómeno relacional, que sólo puede ser adecuadamente comprendido a la luz de la historia y del contexto actual del individuo. Estos tres puntos se constituyen en los pilares de una matriz teórica que, a diferencia de la matriz francesa, enfatiza la complejidad de la enfermedad somática y está alineada con un modelo integral de cuidado en salud.