Resumo Este estudo objetiva analisar a relação entre feminicídios e indicadores socioeconômicos, demográficos, de acesso e saúde em capitais e municípios brasileiros de grande porte populacional. Trata-se de um estudo ecológico que utilizou o coeficiente médio padronizado da mortalidade feminina por agressão como marcador de feminicídio nos triênios de 2007-2009 e 2011-2013. Para a análise estatística foi utilizado o teste de Correlação de Pearson entre o desfecho e 17 variáveis independentes, e as que apresentaram significância estatística (p < 0,05) foram introduzidas em um modelo de regressão linear multivariada, método Backward. No primeiro triênio a taxa média de feminicídio foi de 4,5 óbitos por 100 mil mulheres, e no segundo período foi de 4,9/100 mil. Pobreza (β = -0,330; p = 0,006), pentecostalismo (β = 0,237; p = 0,002) e mortalidade masculina por agressão (β = 0,841; p = 0,000) estiveram associados aos feminicídios. A associação negativa entre pobreza e mortes femininas indica uma relação paradoxal, na medida em que as mulheres que morrem nas regiões mais ricas são pobres em sua maioria. Ainda, encontrou-se relação entre violência de gênero, fundamentalismos e violência urbana.
Abstract This study analyses the relationship between femicides and indicators of socio-economic condition, demography, access to communications, and health situation, in Brazilian state capitals and large-population municipalities. It is an ecological study using the standardized mean coefficient of female mortality due to aggression as a marker for femicide in the years 2007–09 and 2011–13. The Pearson Correlation test was used for the statistical analysis between the outcome and 17 independent variables, and those that were statistically significant (p < 0.05) were introduced into a multivariate linear regression model, using backward elimination. In the first three-year period the average rate of femicide was 4.5 deaths per 100,000 women, and in the second period it was 4.9/100,000. Poverty (β = –0.330; p = 0.006), Pentecostalism (β = 0.237; p = 0.002) and male mortality by aggression (β = 0.841; p = 0.000) were associated with femicides. The negative association between poverty and feminine deaths indicates a paradoxical relationship, in that women who die in the richer regions are mostly poor. A relationship was also found between gender violence, fundamentalist religious beliefs, and urban violence.