Crianças bilíngues desenvolvem sensibilidade para escolher as línguas de seus interlocutores de forma muito precoce, o que se reflete nas proporções diferenciadas do uso de cada língua. Os fatores tais como o contexto do discurso e a relativa dominância das línguas na comunidade podem também determinar o grau de diferenciação dos usos das línguas nas crianças em fase préescolar. Crianças bilíngues bimodais, ou seja, as que estão adquirindo uma língua de sinais e uma língua falada, simultaneamente, estão diante de um contexto mais complexo de negociações. Além da alternância de línguas, essas crianças produzem a sobreposição de línguas, que é um fenômeno sociolinguístico análogo àquele, mas sem a supressão de uma das línguas. Este estudo analisa produções espontâneas de crianças bilíngues bimodais, interagindo com seus interlocutores surdos ou ouvintes (duas crianças americanas e duas brasileiras). Nossos resultados mostram que, mesmo nas produções mais iniciais, as crianças produzem mais enunciados sinalizados com seus interlocutores surdos e mais enunciados falados com os seus interlocutores ouvintes. Todas as quatro crianças produziram enunciados bimodais, tanto nas sessões em que a língua alvo era a fala ou os sinais, mas de forma muito mais frequente nas sessões em sinais, potencialmente porque as crianças acham mais difícil suprimir a língua dominante. Esses resultados indicam que essas crianças bilíngues bimodais são sensíveis às línguas e seus interlocutores, enquanto apresentam uma influência considerável da língua dominante da sua comunidade.
Bilingual children develop sensitivity to the language choice of their interlocutors at an early age, reflected in differential proportions of the use of each language. Factors such as discourse context and relative language dominance in the community may also mediate the degree of language differentiation in preschool-age children. Bimodal bilingual children, those acquiring both a sign language and a spoken language, have an even more complex situation to negotiate. Besides the code-switching, the bimodal bilinguals engage in code-blending, a phenomenon with sociolinguistic uses that is analogous to code-switching, but without suppressing one of the languages. This study analyzes longitudinal spontaneous production data from four bimodal bilingual children (two Americans and two Brazilians). Our results show that even in the earliest observations, the children produced more signed utterances with their deaf interlocutors and more speech with their hearing interlocutors. All four children had used bimodal production in sign and speech sections, potentially because they find the suppression of the dominant language more difficult. The results reported here indicate that these preschool bimodal bilingual children are sensitive to the language status of their interlocutors, while showing a considerable influence from the dominant community language.