RESUMO OBJETIVO Analisar os fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais, reprodutivos, comportamentais, de assistência à saúde, doenças maternas e, sobretudo, o possível impacto do desastre ambiental ocorrido em Mariana, pela exposição pré-natal a diferentes fontes de água para consumo humano, associados ao baixo peso ao nascer em nascidos vivos a termo no Hospital Municipal de Governador Valadares, Minas Gerais. MÉTODOS Estudo caso-controle, realizado com nascidos vivos no Hospital Municipal de Governador Valadares, no período de maio de 2017 a julho de 2018. O grupo caso foi composto por nascidos vivos a termo e baixo peso ao nascer e o grupo controle, por nascidos vivos a termo e com peso adequado, pareados por sexo e data de nascimento. Para cada caso foram selecionados dois controles. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista com as puérperas e informações complementares foram obtidas pela análise do cartão de pré-natal e prontuários. Para análise dos dados, foi realizada regressão logística. RESULTADOS Participaram do estudo 65 nascidos vivos pertencentes ao grupo caso e 130 ao grupo controle. Após a análise ajustada para os demais fatores em estudo, verificou-se que os riscos mais elevados de baixo peso ao nascer estão associados aos primeiros filhos (RC = 2,033; IC95% = 1,047–3,948; p = 0,036) e aos nascidos vivos cujas mães utilizaram cigarro durante a gestação (RC = 2,850; IC95% = 1,013–8,021; p = 0,047) e consumiram a água fornecida pelos serviços de abastecimento dos municípios atingidos pelos rejeitos provenientes do rompimento da barragem de Fundão (RC = 2,444; IC95% = 1,203–4,965; p = 0,013). CONCLUSÕES A água consumida na gestação, primiparidade e tabagismo materno apresentaram associação com baixo peso ao nascer na população estudada. Reforça-se a importância de estudos epidemiológicos, que avaliem a qualidade da água e seus efeitos adversos na saúde, assim como maior controle no pré-natal das gestantes que terão o primeiro filho e maior apoio das políticas contra o tabagismo, especialmente durante a gravidez.
ABSTRACT OBJECTIVE To analyze the many factors regarding socioeconomic and healthcare-related variables linked to maternal diseases and the possible impact of the environmental disaster of Mariana, given the prenatal exposure to different water sources for human consumption that were associated with low birthweight in full-term live births in the Municipal Hospital of Governador Valadares, Minas Gerais. METHODS Case-control study, carried out with live births at the Municipal Hospital of Governador Valadares, from May 2017 to July 2018. The case group consisted of full-term live births and low birthweight, and the control group consisted of full-term live births with adequate weight, matched by gender and date of birth. For each case, two controls were selected. Data collection was performed through interviews with the puerperal women, and complementary information was obtained by analyzing the prenatal card and medical records. For data analysis, logistic regression was performed. RESULTS The study included 65 live births from the case group and 130 from the control group. After the analysis was adjusted for other factors under study, we found that the higher risks of low birthweight are associated with the first childbirth (OR = 2.033; 95%CI = 1.047–3.948; p = 0.036), smoking during pregnancy (OR = 2.850; 95%CI = 1.013–8.021; p = 0.047) and consumption of water supplied by the municipalities affected by the tailings from the Fundão dam failure (RC = 2.444; 95%CI = 1.203–4.965; p = 0.013). CONCLUSIONS The variables “water consumed during pregnancy,” “previous pregnancies” and “maternal smoking” were associated with low birthweight in the population studied. The importance of epidemiological studies that assess water quality and its adverse health effects is reinforced, as well as greater prenatal control of first-time pregnant women and greater support of policies against smoking, especially during pregnancy.