Resumo Mobilizados pelo risco da “perda cultural” diante da crescente influência não indígena em suas aldeias, os índios Kuikuro do Alto Xingu se envolveram em um amplo Projeto de Documentação de seu complexo ritual, cuja face mais conhecida é o cinema produzido por ou em parceria com os chamados “realizadores indígenas”. Neste artigo, analiso a especificidade dessa produção fílmica, realizada com o objetivo principal de “guardar a cultura” para que ela não desapareça. Veremos como essa ideia central atravessa os dois “caminhos” tomados pelos realizadores kuikuro e seus parceiros, a saber: os chamados “filmes de rituais” e os filmes voltados para a audiência não indígena. Em ambos os casos destaca-se uma abordagem original do ritual, seja ela orientada pela ideia de reter a totalidade desse conhecimento específico, seja pelo esforço em performar para os espectadores de fora das aldeias as complexas relações que estão em jogo nos rituais kuikuro.
Abstract Instigated by the risk of ‘cultural loss’ due to growing non-indigenous influence in their villages, the Kuikuro Indians of the Upper Xingu became involved in a wide-ranging project to document their ritual complex. The most well-known aspect of this project is the cinema produced by, or in partnership with, ‘indigenous filmmakers’. In this article, I analyse the specificity of this film production and its primary objective of ‘keeping culture’ to prevent its disappearance. We will see how this core idea traverses the two ‘paths’ taken by the Kuikuro filmmakers and their partners: first, the so-called ‘films of rituals;’ and, second, the films made for non-indigenous audiences. In both cases, we can discern an innovative approach to ritual, whether conducted by the idea of retaining the totality of a specific tradition, or by an attempt to perform the complex relations involved in Kuikuro rituals for spectators from outside the villages.
Resumen Movilizados por el riesgo de la “pérdida cultural” ante la creciente influencia no indígena en sus aldeas, los indios Kuikuro del Alto Xingu están hoy involucrados en un amplio proyecto de documentación de su complejo ritual, cuya faz más conocida es el cine producido por los “realizadores indígenas” o con su colaboración. En este artículo, analizo la especificidad de esa producción fílmica, realizada con el objetivo principal de “guardar la cultura” para que no desaparezca. Veremos cómo esa idea central atraviesa los dos “caminos” elegidos por los realizadores kuikuro y sus colaboradores, a saber, las “películas de rituales” y las películas hechas para el público no indígena. En los dos casos, se pone de relieve un abordaje original del ritual, orientado por la idea de retener la totalidad del conocimiento específico o por el esfuerzo en mostrar a los espectadores de fuera de las aldeas las complejas relaciones que están en juego en los rituales kuikuro.