RESUMO Contexto: O tratamento do câncer retal distal pode ser acompanhado por distúrbios evacuatórios de etiologia multifatorial. A quimiorradioterapia neoadjuvante faz parte do tratamento padrão para pacientes com câncer retal extraperitoneal localmente avançado. A avaliação da função anorretal após neoadjuvância de longa duração em pacientes com câncer de reto extraperitoneal tem sido pouco estudada. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos da neoadjuvância na função anorretal e na incontinência em pacientes com câncer retal extraperitoneal. Métodos: Pacientes com adenocarcinoma de reto candidatos à terapia neoadjuvante foram submetidos a avaliação funcional por manometria anorretal e avaliação do grau de incontinência fecal pelo escore de Jorge-Wexner, pré e oito semanas após a neoadjuvância. Os parâmetros manométricos avaliados foram pressão anal média de repouso, pressão anal de contração voluntária máxima e pressão anal média de contração voluntária. Todos os pacientes foram submetidos ao mesmo protocolo de neoadjuvância baseado na aplicação de fluoropirimidina (5-FU) na dosagem de 350 mg/m2 associada ao ácido fólico na dosagem de 20 mg/m2, por via intravenosa, na primeira e última semana de tratamento, concomitantemente à radioterapia conformacional com dose total de 50,4Gy, dividida em 28 frações diárias de 1,8Gy. Para análise estatística das variáveis quantitativas com distribuição normal, foram calculados a média, desvio padrão, mediana e intervalo interquartil. Para comparação de duas amostras relacionadas (antes e oito semanas após a neoadjuvância, foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon. Resultados: Quarenta e oito pacientes com câncer retal foram incluídos no estudo, com média de idade de 62,8 (39-81) anos, sendo 36 (75%) do sexo masculino. O uso de neoadjuvância foi associado à diminuição dos valores de média de pressão de repouso (55,0 mmHg vs 39,1 mmHg, P<0,05) e média de pressão de contração voluntária (161,9 mmHg vs 141,9 mmHg, P<0,05) sem alterar os valores de pressão de contração voluntária máxima ((185,5 mmHg vs 173 mmHg, P=0.05)). Não houve piora do escore de incontinência oito semanas após o uso da quimiorradioterapia neoadjuvante (3,0 vs 3,3; P>0,05). Conclusão: A neoadjuvância associou-se à redução dos valores de média de pressão de repouso e média dos valores contração voluntária. Não houve alteração nos valores de contração voluntária máxima, bem como no grau de continência fecal pelo escore de Jorge-Wexner.
ABSTRACT Background: The treatment of distal rectal cancer may be accompanied by evacuation disorders of multifactorial etiology. Neoadjuvant chemoradiotherapy (NCRT) is part of the standard treatment for patients with locally advanced extraperitoneal rectal cancer. The assessment of anorectal function after long-term NCRT in patients with cancer of the extraperitoneal rectum has been poorly evaluated. Objective: The aim of the present study was to evaluate the effects of NCRT on anorectal function and continence in patients with extraperitoneal rectal cancer. Methods: Rectal adenocarcinoma patients undergoing neoadjuvant therapy were submitted to functional evaluation by anorectal manometry and the degree of fecal incontinence using the Jorge-Wexner score, before and eight weeks after NCRT. The manometric parameters evaluated were mean resting anal pressure (ARp), maximum voluntary contraction anal pressure (MaxSp) and average voluntary contraction anal pressure (ASp). All patients underwent the same NCRT protocol based on the application of fluoropyrimidine (5-FU) at a dosage of 350 mg/m2 associated with folic acid at a dosage of 20 mg/m2, intravenously, in the first and last week of treatment, concomitantly with conformational radiotherapy with a total dose of 50.4Gy, divided into 28 daily fractions of 1.8Gy. For statistical analysis of the quantitative variables with normal distribution, the mean, standard deviation, median and interquartile range were calculated. For comparison of two related samples (before and eight weeks after NCRT), Wilcoxon’s non-parametric test was used. Results: Forty-eight patients with rectal cancer were included in the study, with a mean age of 62.8 (39-81) years, 36 (75%) of whom were male. The use of NCRT was associated with a decrease in the values of ARp (55.0 mmHg vs 39.1 mmHg, P<0.05) and ASp (161.9 mmHg vs 141.9 mmHg, P<0.05) without changing MaxSp values (185,5 mmHg vs 173 mmHg, P=0.05). There was no worsening of the incontinence score eight weeks after the use of NCRT (3.0 vs 3.3; P>0.05). Conclusion: NCRT was associated with a reduction in the values of ARp and the ASp. There was no change in MaxSp, as well as in the degree of fecal continence by the Jorge-Wexner score.