O Brasil tem o maior número de espécies de primatas do mundo, e a Amazônia é uma das mais ricas florestas, com 15 (cerca de 90%) dos gêneros de primatas neotropicais. Embora considerados elementos essenciais nas estratégias atuais de conservação, de modo geral há grande escassez de informação sobre os primatas das áreas protegidas na região. Apresentamos aqui novos dados sobre a composição da comunidade de primatas na Floresta Nacional Saracá-Taquera (429.600 ha), Pará, uma área rica em bauxita e explorada por uma empresa mineradora nacional. Usamos informações da literatura, relatórios técnicos, dados de museus e entrevistas com agentes do IBAMA e membros da comunidade quilombola local. Além disso, realizamos 19 excursões de 10 a 15 dias de duração cada, no período de julho de 2003 a junho de 2007, em um esforço total de 1.230 horas e 1.420 km de censos, resultando em 1.034 registros de oito espécies de primatas (Saguinus martinsi, Saguinus midas, Saimiri sciureus, Cebus apella, Pithecia pithecia, Chiropotes sagulatus, Ateles paniscus e Alouatta macconelli). Outras duas espécies (Aotus trivirgatus e Cebus olivaceus) foram somente registradas de forma indireta (literatura e museus). Alouatta macconelli foi a espécie mais frequentemente registrada (43% de todos os registros); Saguinus midas e P. pithecia foram as espécies menos frequentes (ca. 0,4 e 0,6% dos registros). Discutimos os tamanhos de grupo registrados, bem como os problemas taxonômicos existentes, principalmente relativos aos gêneros Pithecia e Chiropotes, para os quais registramos variação geográfica e duas formas diferentes, respectivamente. Apesar do desmatamento causado pela mineração de bauxita, a Floresta Nacional Saracá-Taquera ainda possui notável riqueza de espécies de primatas. Nossos resultados colocam a área de estudo entre as mais ricas reservas em primatas na Região Amazônica.
Brazil is the richest country in the world in terms of primate species and the Amazonian rain forest is one of the richest biomes containing 15 (ca. 90%) of the Neotropical primate genera. Although considered key elements in conservation strategies, there is only anecdotal information on primates for several protected areas within the region. Here we present new data on the community composition of the primates in the Saracá-Taqüera National Forest (429,600 ha), an actively mined, bauxite rich area, in Pará, Brazil. We used information from the literature, technical reports, museum data, and interviews conducted with agents from the Brazilian Institute of the Environment and Natural Renewable Resources (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA) and members of the local "Quilombo" community. In addition, from July 2003 to June 2007, we carried out 19 field trips ranging from 10 to15 days each, amounting to a total effort of 1,230 hours and 1,420 km of censuses, resulting in 1,034 records of eight primate species (Saguinus martinsi, Saguinus midas, Saimiri sciureus, Cebus apella, Pithecia pithecia, Chiropotes sagulatus, Ateles paniscus, and Alouatta macconelli). Two other species (Cebus olivaceus and Aotus trivirgatus) were recorded only indirectly, through interviews and literature data. In all, Alouatta macconelli was the most frequently recorded species (43% of all records); while Saguinus midas and P. pithecia were the least (ca. 0.4 and 0.6% of all records). Based on our results, we discuss group sizes as well as taxonomic problems concerning the genera Pithecia and Chiropotes, for which we registered individuals displaying phenotypic geographical variation and two different forms, respectively. Despite the deforestation inherent in bauxite mining, the Saracá-Taqüera National Forest still has a remarkable richness of primate species. Our study results place this National Forest amongst the richest reserves, in terms of primate species, in the Amazon region.