Resumo Todos os anos milhares de trabalhadores dos estados nordestinos se deslocam para os canaviais do estado de São Paulo para trabalhar nas usinas de cana-de-açúcar. Os que migram são jovens, com pouca escolaridade e oriundos de famílias camponesas. Dentre outras coisas, pesquisadores chamam atenção para os riscos a que tais trabalhadores estão sujeitos, riscos estes presentes nas condições de transporte, moradia e no ambiente de trabalho. A organização do trabalho está sempre focada no aumento da extração de mais valia, que tem resultado na degradação da força de trabalho, expressa nas várias formas de adoecimento e nas inúmeras mortes de trabalhadores-migrantes. Tencionando a noção de “risco” e relacionando-a aos processos de subjetivação, é nossa intenção, no espaço deste artigo, compreender os sentidos que os trabalhadores-migrantes atribuem aos riscos a que estão expostos durante a viagem e também nos locais de trabalho (os canaviais paulistas). Metodologicamente, lançamos mão de uma abordagem qualitativa. Os dados foram colhidos mediante entrevistas semiestruturadas realizadas com uma amostra de 12 trabalhadores-migrantes oriundos do município de Santa Cruz da Baixa Verde (PE), na microrregião do Pajeú, e também de municípios localizados na microrregião da Serra do Teixeira (PB), especialmente os circunvizinhos à cidade de Princesa Isabel (PB). Os dados permitem-nos afirmar a existência de uma relação intrínseca entre os riscos que se corre e a afirmação da identidade de gênero dos sujeitos investigados.
Abstract Every year thousands of workers from the Brazilian Northeastern states move to the sugarcane plantations in the state of São Paulo to work in sugarcane mills. Most of them are young with little schooling and come from peasant families. Among other things, researchers call attention to the risks to which these workers are submitted, related to transportation conditions, housing and work environment. The organization of work is always focused on increasing the surplus value, which has resulted in the deterioration of the labor force, expressed by several diseases and countless deaths of migrant workers. In the scope of this article, it is our intention to define “risk” concept and relate it to the processes of subjectivities and to understand the meanings that migrant workers attribute to the risks to which they are exposed during the trip and also in workplaces (sugarcane plantations). Regarding methodology, we used a qualitative approach. Data were collected through semi-structured interviews conducted with a sample of 12 migrant workers from the city of Santa Cruz da Baixa Verde (Pernambuco), in the Pajeú microregion, and also of cities located in the microregion of Serra do Teixeira (Paraíba), especially the surrounding areas of Princesa Isabel (state of Paraíba). The data allow us to assert the existence of an intrinsic relationship between the risks they run and the affirmation of the gender identity of the subjects investigated.