O objetivo deste artigo é descrever a história de vida de mães de crianças desnutridas e as possíveis relações com fatores sociodemográficos e psicossociais. Trata-se de estudo transversal realizado em unidade básica de saúde em Porto Alegre (RS) com 82 mães de crianças desnutridas. Usou-se um questionário estruturado com variáveis sociodemográficas referentes à gestação e relacionadas à história de vida das mães. Realizaram-se análise descritiva e o teste Qui-quadrado para verificar possíveis associações entre as variáveis selecionadas. As mães apresentaram baixa escolaridade, baixa renda familiar, são multíparas, sofreram maus-tratos, experiências negativas com familiar alcoolista (67%) e privação afetiva infantil (65%); rejeitaram a gravidez do filho desnutrido (70%); faltou apoio do companheiro na gestação e pós-parto; 70% relataram sintomas depressivos no período gestacional e em torno de 60% destas apresentaram os mesmos sintomas no pós-parto. Verificou-se diferença na proporção de mães que sofreram maus-tratos na infância e rejeição da gravidez (p<0,001), sintomas depressivos na gravidez e pós-parto (p<0,001). O estudo identificou na história de vida dessas mães fatores que, além da situação de desvantagem social e financeira, apresentam elementos para a formação de fraco vínculo mãe-bebê, contribuindo para a desnutrição.
The objective of this article is to describe the life story of mothers of malnourished children and their possible associations to socio-demographic and psychosocial aspects. It is a cross sectional study carried out in a public health basic unit in Porto Alegre (RS, Brazil), with a total of 82 mothers. It was used a structured questionnaire with socio demographic, reproductive variables and mothers' live events. A descriptive analysis and chi-square were used to investigate possible associations among the selected variables. Mothers had low schooling, low income and were multiparous besides, suffered parental abuse, had negative experiences with alcoholic parents (67%), were neglect in infancy (65%), have rejected the undernourished baby during pregnancy (70%). They related depression symptoms during pregnancy (70%) and postpartum (60%). The study showed a difference of proportion between mothers who suffered abuse in childhood and those who not suffered according to pregnancy rejection (p<0,001), depression during the pregnancy and after delivery (p<0,001). This study associated mother's life stories with live events that, beyond the social and economic disadvantage, could develop a weak interaction between mother-baby that contribute to malnutrition.