TEMA: este trabalho apresenta os resultados de um inquérito epidemiológico realizado com fonoaudiólogos da cidade do Rio de Janeiro (Brasil) acerca de sua experiência profissional com crianças e adolescentes vítimas de violência familiar. OBJETIVO: conhecer a ocorrência dos maus-tratos na clientela atendida por esses profissionais, caracterizando as vítimas quanto a faixa etária mais atingida, sexo, tipo de violência sofrida, agressor e tipo de queixa fonoaudiológica mais freqüente, além de conhecer como a violência foi identificada e qual foi a evolução dos casos. MÉTODO: foram enviados 500 questionários auto-administráveis por correio para uma amostra aleatória de fonoaudiólogos do Rio de Janeiro. Os questionários retornados foram identificados somente por números para garantir o anonimato. RESULTADOS: dos 224 fonoaudiólogos que responderam ao questionário, 54 atenderam pelo menos um caso de mau-trato, sendo a maioria composta por crianças. O principal agressor foi a mãe e o tipo de violência mais identificada foi a física. O atraso de linguagem foi a queixa fonoaudiológica mais freqüente nas vítimas de violência e a principal forma de identificação foi o relato da própria vítima ao profissional - relato verbal ou ainda, por meio de desenhos, estórias contadas, dramatizações e brincadeiras. Quanto a evolução, a maioria abandonou o tratamento fonoaudiológico impossibilitando o acompanhamento dos casos. CONCLUSÃO: dada a importância do tema para a área e a escassez de trabalhos existentes no Brasil sobre Fonoaudiologia e maus-tratos infantis, é imprescindível investir no trabalho de formação e informação deste profissional. É tarefa ainda do fonoaudiólogo, dar visibilidade a um problema tão complexo e principalmente, "dar voz" às crianças vítimas de violência, compreendendo que por trás de uma queixa fonoaudiológica pode haver um pedido de socorro.
BACKGROUND: this work presents the results of an epidemiological survey about the professional experience of Speech-Language Pathologists and Audiologists of Rio de Janeiro (Brazil) with children and adolescents who are victims of domestic violence. AIM: to understand the occurrence of child abuse and neglect of children and adolescents treated by speech-language pathologists, characterizing the victims according to: most affected age group, gender, form of violence, aggressor, most frequent speech-language complaint, how the abuse was identified and follow-up. METHOD: 500 self-administered mail surveys were sent to a random sample of professional living in Rio de Janeiro. The survey forms were identified only by numbers to assure anonymity. RESULTS: 224 completed surveys were mailed back. 54 respondents indicated exposure to at least one incident of abuse. The majority of victims were children, the main abuser was the mother, and physical violence was the most frequent form of abuse. The main speech disorder was late language development. In most cases, the victim himself told the therapist about the abuse - through verbal expression or other means of expression such as drawings, story telling, dramatizing or playing. As the majority of the victims abandoned speech-language therapy, it was not possible to follow-up the cases. CONCLUSION: due to the importance if this issue and the limited Brazilian literature about Speech-Language and Hearing Sciences and child abuse, it is paramount to invest in the training of speech-language pathologists. It is the duty of speech-language pathologists to expose this complex problem and to give voice to children who are victims of violence, understanding that behind a speechlanguage complaint there might be a cry for help.