Resumo Este artigo tem como objetivo debater práticas de cuidado com gestantes usuárias de drogas nas políticas públicas, considerando o modo como relações de gênero influenciam as práticas de saúde. Partimos de uma pesquisa etnográfica realizada em uma unidade de internação psiquiátrica de um Hospital público e em um Consultório na Rua, no Rio Grande do Sul, focando na atenção voltada a gestantes que fazem uso de crack nesses espaços. Fundamentamo-nos teoricamente em estudos feministas interseccionais e descoloniais, bem como na noção de Economia Moral. O uso de drogas para fins recreativos por mulheres é comumente considerado inapropriado e motivo de estigmatizações, pois, ao afastarem-se da normatividade do que se espera sobre ser mulher, elas são, geralmente, julgadas moralmente. Junto a isso, a análise aponta para o modo como a produção biopolítica de um imaginário único sobre a maternidade incide nas maneiras segundo as quais as políticas públicas operam em relação às mulheres, o que se torna um ponto fundamental ao se considerar o contexto social no qual elas estão inseridas. Assim, o artigo destaca a importância de análises interseccionais de gênero, raça e classe no campo das políticas públicas de drogas.
Abstract This paper aims to discuss care practices used with pregnant drug users in public policies, considering how gender relations influence health practices. This is an ethnographic research on attention to pregnant women, who are crack users, in a psychiatric unit in a public hospital and a Clinic in the Street in Rio Grande do Sul. This research was based on intersectional and decolonial feminist studies, as well as the notion of moral economy. The use of drugs by women for recreational purposes is often considered inappropriate and grounds for stigma because it deviates from the normativity of what is expected from being a woman, that are often morally judged. Moreover, the analysis points out how the biopolitical production of a unique imaginary o nmotherhood affects the way in which public policies act towards women. This becomes a fundamental point when considering the social context in which these women are inserted. Thus, the article highlights the importance of intersectional analysis of gender, race and class for public drug policies.