RACIONAL: A adesão ao tratamento medicamentoso nas doenças inflamatórias intestinais apresenta grande importância clínica e social. Porém, são escassos os estudos sobre este tema em nosso meio. OBJETIVO: Investigou-se a adesão ao tratamento medicamentoso prescrito, bem como a influência de alguns fatores sobre a adesão, de pacientes com doenças inflamatórias intestinais em acompanhamento em ambulatório de Gastroenterologia de um hospital universitário ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS). MÉTODO: Realizou-se estudo transversal, com métodos indiretos, para avaliar a adesão ao tratamento de 26 casos da doença de Crohn, 26 pacientes com retocolite ulcerativa e 4 com colite indeterminada, que faziam uso contínuo de medicamentos, dos quais 89,3% eram fornecidos pelo SUS. Os pacientes foram classificados como tendo alto ou baixo grau de adesão, com base em dois diferentes instrumentos. RESULTADOS: A análise dos medicamentos utilizados revelou baixa adesão em 15,4% de pacientes com doença de Crohn e 13,3% com retocolite ulcerativa. Porém, o teste de Morisky, que avalia hábitos de uso dos medicamentos, mostrou 50% de baixa adesão na doença de Crohn e 63,3% na retocolite ulcerativa. Análise univariada evidenciou na doença de Crohn relação entre baixa adesão e maior duração da doença, estado marital instável, residência próxima ao hospital e envolvimento do cólon. Na retocolite ulcerativa observou-se relação entre baixa adesão e atividade da doença e maior número de medicamentos em uso. Porém, a análise multivariada não evidenciou relação estatisticamente significativa que indicasse influência de qualquer fator sobre a adesão ao tratamento. CONCLUSÕES: Proporções elevadas de pacientes com doenças inflamatórias intestinais apresentam hábitos de uso de medicamentos indicativos de baixa adesão, difíceis de prever a partir de dados demográficos e clínicos, o que aponta para a necessidade de maior atenção dos profissionais de saúde a este importante aspecto do tratamento.
BACKGROUND: Compliance to drug therapy is important for a successful treatment. Although many studies have assessed compliance to treatment in patients with chronic diseases, few investigations have been carried out in inflammatory bowel diseases. AIM: To assess compliance to drug therapy in patients with inflammatory bowel diseases - Crohn's disease and ulcerative colitis -, followed at a university hospital, who had prescribed medication supplied by the Brazilian National Health System. METHODS: In a cross sectional study, a structured interview was applied to assess the compliance of 26 Crohn's disease patients, 26 ulcerative colitis patients and 4 cases with undetermined colitis. Patients were characterized as presenting higher or lower degree of compliance, based on the comparison of the information provided by the patient in the interview and data in the medical records. The Morisky test was also used to assess the behavioral pattern of the patient regarding the daily use of the medication. RESULTS: The interview showed that 15.4% of patients with Crohn's disease and 13.3% of those with ulcerative colitis could be regarded as less compliant. However, the Morisky test revealed lower compliance in 50% of patients with Crohn's disease and 63.3% of those with ulcerative colitis. Univariate analysis showed an association between low compliance and long disease duration, married status and colon involvement in Crohn's disease, and between low compliance and increased disease activity and greater number of medications in ulcerative colitis. However, multivariate analysis did not confirm any association between low compliance and any demographic or clinical factor. CONCLUSIONS: A high degree of noncompliance to treatment, linked to habitual behavior and hard to predict from demographic or clinical factor, was detected in inflammatory bowel disease patients, which suggests the need for investment in patient education regarding medication use.