Um grande número de trabalhos de manutenção é descrito em procedimentos escritos precisos. Tais procedimentos dizem respeito a um determinado tipo de equipamento/máquina. Nos procedimentos de manutenção, as reparações dos equipamentos são descritas dentro de um padrão de estabilidade e normalidade onde todas as operações ocorrem de acordo com o esperado, como se fossem feitas na oficina, como equipamentos isolados. Mas na realidade, as reparações ocorrem em ambientes complexos. Frequentemente, as regras descritas nos procedimentos devem ser adaptadas, ou por vezes desrespeitadas, para permitir o reparo em condições reais. Este artigo é o resultado de pesquisa realizada em uma área de manutenção de máquinas de uma indústria automobilística, objetivando compreender a pertinência das prescrições para a realização das intervenções de manutenção, sejam elas corretivas ou preventivas. Baseada nos pressupostos metodológicos da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), centrada na distinção entre trabalho prescrito e trabalho real e entrevistas em autoconfrontação, a atividade efetivamente realizada foi confrontada com a prescrição, evidenciando diversas fontes de variabilidade, constrangimentos e imprevistos que são geridas pelos profissionais durante o curso da ação, mobilizando suas competências, baseadas na experiência e saber acumulado, bem como estratégias de antecipação para o controle das situações e modos operatórios nem sempre conscientes, o que garante "de fato" o compromisso eficaz entre produção e segurança. Os resultados do estudo indicam que essas prescrições, ainda que elaboradas com a participação efetiva dos profissionais, são ineficientes para o trabalho vivo. Os constrangimentos manifestos no trabalho real decorrem da própria lógica da atividade viva, abismo inevitável entre o prescrito e o real.
A great many maintenance works are described in precise written instructions. These instructions are related to a particular type of equipment/machine. In maintenance instructions, the repairs of equipment are described in a pattern of stability and normality where all operations occur in accordance with the expected, as if they were made at the workshop, as individual equipment. But actually, the repairs occur in complex environments. Quite often, the rules described in the instructions have to be adapted, or sometimes broken, to enable repair under real conditions. This paper is the result of a research conducted in the maintenance section of an automotive industry. The objective of this study is to understand the relevance of prescriptions for the execution of maintenance activities, either corrective or preventive. Based on the methodological assumptions of Ergonomic Work Analysis (EWA), centered on the distinction between prescribed work and real work and self-confrontation interviews, the activity actually performed was faced with the prescription, showing many sources of variability, constraints and contingencies that are managed by professionals during the course of action; mobilizing skills based on experience and know-how, as well as anticipation strategies for the control of situations and actions not always conscious, which indeed ensures effective commitment between production and safety. The results indicate that these prescriptions, even though developed with the effective participation of professionals, are inefficient for the live work. The constraints on the real work are the result of the logic of live activity, unavoidable gap between the works prescribed and the real ones.