Resumo: O processo de entrecruzamento de perspectivas e análises de duas pesquisadoras é o foco da discussão deste texto. Nele são discutidas as inquietações e questionamentos diante de solicitações experimentadas durante o trabalho etnográfico caracterizado pela longa duração tanto entre os Dogon (no Mali) como entre os Tsonga (no sul de Moçambique). Nas experiências aqui retrabalhadas são indicadas nuances de apreensão de experiências ligadas à loucura, à incapacidade reprodutiva, à migração e a um conjunto de dinâmicas de saberes endógenos em situações de crise e sofrimento individual e social. Na análise, as autoras atentam para o movimento do imaginário e da criatividade, assumindo, de modo complementar, uma releitura reflexiva como maneira de cumprir travessias epistemológicas para o entendimento de questões densas de sentido e de ambiguidades que emergiram em estudos de campo. Tornou-se relevante para ambas as pesquisadoras o recurso a estratégias sensíveis para acesso ao mundo imaginal - desenho, fotografia e construção fílmica -, inscrevendo produções expressivas na interpretação antropológica como possibilidades interculturais no contexto do trabalho etnográfico. As referências culturais e epistêmicas geram percepções contrastantes, por vezes ininteligíveis, demandando recurso a linguagens não lineares no que concerne a noções ligadas aos domínios do não visível e a formas de elaboração da mobilidade em meio às sombras lançadas nas construções intersubjetivas.
Abstract: The process of cross-referencing perspectives and analyzes of two researchers is the focus of the discussion of this text. It discusses the requests issues during the ethnographic work, characterized by the long duration, both between the Dogon (in Mali) and between the Tsonga (in the south of Mozambique). New understandings emerge from experiences linked to madness, reproductive incapacity, migration and a set of endogenous knowledge dynamics in situations of crisis and individual and social suffering. In the analysis, the authors look for the movement of the imaginary and the creativity, assuming, in a complementary way, a reflexive re-reading as a way to fulfill epistemological crossings to the understanding of dense questions of sense and ambiguities that emerged in field studies. It became relevant for both researchers to use sensitive strategies for access to the imaginal world - drawing, photography and film construction -, inscribing expressive productions in anthropological interpretation as intercultural possibilities in the context of ethnographic work. Cultural and epistemic references generate contrasting perceptions, sometimes unintelligible, requiring the use of non-linear languages in terms of the notions related to the domains of non-visible and forms of elaboration of mobility in the midst of the shadows cast in intersubjective constructions.