Resumo Este artigo objetiva analisar formas de afetação da diferença presentes na comunicação organizacional do governo federal em meio ao contexto do aumento do número de nascimentos de crianças com microcefalia no Brasil, durante a epidemia do vírus Zika, entre novembro de 2015 e novembro de 2017. Suas bases conceituais discutem a comunicação e o regime estético das/nas organizações, diante da aparição pública da microcefalia, que afeta discursos oficiais a partir de estéticas da diferença, reveladoras de cenários de vulnerabilidade. A metodologia pautou-se por uma análise interpretativa do discurso organizacional, tendo como suporte empírico publicações sobre a microcefalia no Blog da Saúde, do Ministério da Saúde. Como resultados, os tratamentos discursivos sinalizam, progressivamente, posturas de: impassibilidade (em relação a mulheres/crianças); erradicação do vetor (prioridade da ação pública); confissão (admissão circunscrita de um desafio de saúde pública); admissão expandida; atribuição de aparência (naturalidade); e atrofiamento (microcefalia associada unicamente à erradicação do vetor). Conclui-se que, à exceção dos tratamentos de admissão expandida e atribuição de aparência, todos os outros revelam abordagens que podem colaborar com o apagamento da existência de seres humanos, com visíveis marcas sociais de vulnerabilidade, por apostas discursivas que, ironicamente, reforçam uma personificação do vetor transmissor do Zika.
Abstract This article aims to analyze ways of difference’s affecting present in the Federal Government’s organizational communication in the context of the increase in the number of births of children with microcephaly in Brazil, during the Zika virus epidemic, between November 2015 and November 2017. Its conceptual bases discuss communication and the aesthetic regime of / in organizations, in the face of the public appearance of microcephaly, which affects official discourses based on aesthetics of difference, revealing vulnerability scenarios. The methodology was based on an interpretative analysis of the organizational discourse, having as empirical support publications on microcephaly in the Health Blog, from the Ministry of Health. As a result, the discursive treatments progressively signal positions of: impassibility (in relation to women/children); vector eradication (priority of public action); confession (circumscribed admission of a public health challenge); expanded admission; appearance attribution (naturalness); and atrophy (microcephaly associated only with vector eradication). It is concluded that, with the exception of the treatments of expanded admission and appearance attribution, all the others reveal approaches that can collaborate with the erasure of the existence of human beings, with visible social marks of vulnerability, by discursive bets that, ironically, reinforce a personification of the Zika transmitting vector.