INTRODUÇÃO: Pouco se conhece sobre as diferenças étnicas na frequência das doenças da pele e, menos ainda, na população brasileira, caracterizada pela miscigenação. OBJETIVO: Avaliar a distribuição das afecções da pele de indivíduos negros, comparativamente com a dos brancos, em material anatomopatológico. MÉTODOS: Foram estudadas 826 biópsias de indivíduos de pele negra e 1.652 dos de pele branca, obtidas do Departamento de Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-UNICAMP), entre 1993 e 2009. Os achados clínicos foram obtidos dos prontuários e os resultados testados por métodos estatísticos. RESULTADOS: O câncer não melanoma foi o diagnóstico mais frequente nos brancos (45%), diferindo, significantemente, da frequência nos negros (8%), assestando-se, em ambos, na pele exposta ao sol. Quanto à topografia e à idade, nos brancos predominavam biópsias da "cabeça e pescoço", na faixa acima dos 50 anos. Nos negros, as doenças predominavam entre 15 e 50 anos, no sexo feminino, na topografia dos genitais. À análise comparativa das doenças vulvares, observou-se diferença nos diagnósticos de doenças sexualmente transmissíveis mais frequentes nas mulheres negras. Excluindo-se os cânceres e a topografia genital, os negros apresentaram porcentagem maior de doenças infecciosas. Entre as doenças não infecciosas, o lúpus cutâneo foi a mais frequente nos dois grupos; o líquen plano e a farmacodermia foram mais frequentes nos negros. CONCLUSÃO: Além das diferenças intrínsecas de tipos de pele, fatores sociais podem atuar na distribuição das doenças. Esses resultados podem ser úteis, tanto para os programas de saúde pública quanto para a abordagem das doenças dermatológicas nos pacientes de pele negra.
INTRODUCTION: Little is known about ethnic differences in the frequency of skin diseases, and even less in terms of Brazilian population, which is characterized by miscegenation. OBJECTIVE: To evaluate the distribution of skin disorders in black and Caucasian patients through pathological specimens. METHODS: 826 biopsies from black-skinned individuals and 1,652 from white-skinned patients were retrieved and studied from the files of the Pathology Department, UNICAMP Hospital within the period of 1993-2009. The clinical data were obtained from medical records and the results were tested by statistical methods. RESULTS: Non-melanoma cancer was the most frequent diagnosis in Caucasians (45%), differing from the frequency among black patients (8%), both arising in sun-exposed skin. Regarding topography and age, in white-skinned patients aged over 50 years, biopsies of "head and neck" prevailed. As to black patients, the disease predominated among female individuals aged from 15 to 50 years and in the genital area. In the comparative analysis of vulvar diseases, we observed differences in diagnoses of sexually transmitted diseases more common among black women. Excluding cancers and genital lesions, black patients had a higher percentage of infectious diseases. Among the non-infectious diseases, cutaneous lupus was the most frequent diagnosis in both groups. Lichen planus and drug reactions were more frequent in black patients. CONCLUSION: Apart from intrinsic differences among skin types, social factors may interfere in the distribution of diseases. Not only may these results be useful to public health programs, but they may also aid the approach to dermatological diseases in black skin patients.