O artigo procura esclarecer como a impunidade tornou-se tema recorrente nos debates a respeito dos direitos humanos no Brasil. De acordo com o argumento desenvolvido, a falta de punição em uma sociedade democrática é problemática por dois motivos. Em primeiro lugar, ela pode ser seletiva, o que já fere o princípio do tratamento isonômico. Em segundo lugar, ela estimula o comportamento predatório, dificultando a cooperação social. O texto avança, em seguida, a idéia de que a impunidade pode estar associada a relações sociais desiguais e hierárquicas, em que alguns são considerados mais merecedores de proteção do que outros. Daí a necessidade de esclarecer o conceito de dignidade humana que parece mais adequado para justificar a defesa de direitos humanos. Este conceito ainda é de matriz kantiana, valorizando a noção de liberdade e autonomia dos sujeitos. Por isso mesmo o direito ao reconhecimento, até hoje pouco valorizado no Brasil, pode ser a matriz da defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana, mesmo os chamados direitos sociais.
The essay tries to clarify how impunity has become a recurrent theme in the Brazilian debate over human rights. Absence of law enforcement has proven to be troublesome within a democratic society for two reasons. First, impunity is contrary to the principle of equal treatment under the law. Second, it may encourage the free rider, hindering social cooperation. The author argues that impunity may be associated with unfair and hierarquical social relations, where some are considered to be more deserving of protection than others. Therefore, it is necessary to explain which concept of human dignity is more suitable to be used in defense of human rights. The chosen concept is a Kantian one, placing a special value on the idea of liberty and personal autonomy. For this reason, the recognition of rights may be the basis for the defense of fundamental human rights, even if they have not been sufficiently recognized by the Brazilian debate.
L'article cherche à expliquer comment l'impunité s'est transformée en un thème récurrent dans les débats à propos des droits de l'homme au Brésil. Selon l'argument développé, le manque de punition dans une société démocratique est problématique pour deux raisons. En premier lieu, il peut être sélectif, ce qui porte atteinte au principe de traitement égalitaire devant la loi. Deuxièmement, il stimule le comportement prédateur, rendant difficile la coopération sociale. Le texte met ensuite en avant l'idée selon laquelle l'impunité peut être associée aux relations sociales inégales et hiérarchisées, dans lesquelles certains sont considérés plus dignes de protection que d'autres. D'où le besoin de préciser le concept de dignité humaine qui paraît plus adéquat pour justifier la défense des droits de l'homme. Ce concept est la matrice kantienne, qui met en valeur la notion de liberté et d'autonomie des sujets. C'est la raison pour laquelle le droit à la reconnaissance qui, jusqu'à nos jours, est peu mis en relief au Brésil, peut être la matrice dans la défense des droits fondamentaux de la personne humaine, et même des droits dits sociaux.