O ainda restrito acesso a partituras e concertos do vasto repertório musical brasileiro dos séculos XVIII e XIX e sua instrumentação estereotipada (quase sempre obras vocais religiosas com acompanhamento orquestral) são obstáculos para sua inclusão nos currículos dos cursos de música no país e sua apreciação por um público mais amplo. Uma alternativa para mudar este quadro é a transcrição de obras desse repertório e adaptação de sua instrumentação para grupos de câmara menores, com exclusão até mesmo da voz na sua instrumentação. Essas transcrições podem proporcionar, de maneira mais eficaz, o contato e a experimentação com as assim-chamadas práticas de performance historicamente informadas (Historically Informed Performance ou HIP), seja a partir da adaptação de referências (auditivas e textuais) já consolidadas na interpretação do repertório europeu, seja a partir da análise de elementos históricos, formais e possíveis figuras de retórica. No presente trabalho, estas questões são abordadas no Recitativo e Aria da cantata acadêmica Heroe, egregio, douto, peregrino (anônimo, Salvador, 1759) para soprano, dois violinos e baixo contínuo, transcrita para um instrumento de cordas orquestral solista (violino, viola, violoncelo ou contrabaixo) e cravo.
The still limited access to scores and concerts of the vast Brazilian music repertoire from the eighteenth and nineteenth centuries and its stereotyped instrumentation (almost always sacred vocal music with orchestral accompaniment) are obstacles for the inclusion of this repertory in the country's instrumental music curricula and its appreciation by a wider audience. An alternative for this situation is the transcription of works and change of their instrumentation to fit smaller chamber formations, including those without singing. Moreover, these transcriptions could also allow the contact and experimentation with the so-called Historically Informed Performance (HIP), departing either from the adaptation of (aural and textual) references already consolidated in the interpretation of the European repertoire or from the analysis of historical and formal elements and rhetorical figures. This article addresses these questions in Recitativo e Aria from the academic cantata Heroe, egregio, douto, peregrino (anonymous, Salvador, 1759) for soprano, two violins and basso continuo, transcribed for a solo orchestral string instrument (violin, viola, violoncello or double bass) and harpsichord.