OBJETIVO: A obesidade, especialmente de distribuição abdominal, associa-se a fatores de risco cardiovasculares como a dislipidemia, a hipertensão arterial (HA) e o diabetes mellitus (DM). A importância desses fatores em nipo-brasileiros foi previamente demonstrada, apesar de a obesidade não ser característica marcante dos migrantes japoneses. Realizou-se estudo com o objetivo de avaliar a prevalência de excesso de peso e a adiposidade central (AC) em nipo-brasileiros e suas relações com distúrbios metabólicos. MÉTODOS: A amostra incluiu 530 nipo-brasileiros (40-79 anos) de primeira e segunda gerações, submetidos a medidas antropométricas de pressão arterial, perfil lipídico e teste oral de tolerância à glicose. A prevalência (por ponto e intervalo de confiança) de excesso de peso foi calculada pelo valor de corte >26,4 kg/m². O diagnóstico de AC foi baseado na razão entre as circunferências da cintura e do quadril (RCQ), sendo que valores > ou = 0,85 e > ou = 0,95, para mulheres e homens, respectivamente, firmavam esse diagnóstico. RESULTADOS: A prevalência de excesso de peso foi de 22,4% (IC95%-- 20,6-28,1), e a de AC, de 67,0% (IC95% -- 63,1-70,9). Além de maiores prevalências de DM, HA e dislipidemia, estratificando-se pelo índice de massa corporal (IMC) e RCQ, indivíduos com excesso de peso e adiposidade central apresentaram pior perfil metabólico: a pressão arterial foi significantemente maior naqueles com excesso de peso, sem e com AC; indivíduos com AC apresentaram maiores índices de glicemia, triglicerídeos, colesterol total e LDL e menor HDL quando comparados aos sem excesso de peso e sem AC; a insulinemia de jejum foi significantemente maior em indivíduos com excesso de peso (sem e com AC) do que naqueles sem excesso de peso e sem AC. CONCLUSÃO: A comparação de subgrupos com e sem adiposidade central foi compatível com a hipótese de que a deposição abdominal de gordura representa fator de risco para doenças interligadas pela resistência à insulina, inclusive em população de origem oriental. A alta prevalência de síndrome metabólica nos migrantes japoneses pode ser decorrente da deposição visceral de gordura, implicada na gênese da resistência à insulina.
OBJECTIVE: Obesity, especially abdominal, has been associated with cardiovascular risk factors such as dyslipidemia, hypertension and diabetes mellitus (DM). The importance of these risk factors among Japanese-Brazilians was previously shown, although obesity is not a typical characteristic of Japanese migrants. In this study the prevalence of weight excess and central adiposity (CA) among Japanese-Brazilians and their association with metabolic disorders was evaluated. METHODS: A sample of 530 1st and 2nd generation Japanese-Brazilians (aged 40--79 years) went through anthropometric and blood pressure measurements, lipid profile and oral glucose tolerance tests. The prevalence rate (point and confidence interval) of overweight was calculated using a cut-off value of >26.4 kg/m². CA diagnosis was based on waist-to-hip circumference ratio (WHR): > or = 0.85 and 0.95 in women and men, respectively. RESULTS: The prevalence of weight excess was 22.4% (CI 95% 20.6--28.1), and CA was 67.0% (95% CI 63.1--70.9). In addition to higher prevalence of DM, hypertension and dyslipidemia, stratifying by BMI and WHR, people with weight excess and CA revealed a poorer metabolic profile: blood pressure levels were significantly higher among those with weight excess with or without CA; CA individuals had higher glucose, triglycerides, total and LDL cholesterol, and lower HDL than those without weight excess or CA; fasting insulinemia was significantly higher among subjects with weight excess (with or without CA) than among those without weight excess or CA. CONCLUSION: Comparing subgroups with and without CA supports the hypothesis that abdominal fat accumulation represents a risk factor for insulin resistance-related diseases, even among Japanese descendants. The increased prevalence of metabolic syndrome among Japanese migrants could be attributed to visceral fat deposition, which has been implicated in the genesis of insulin resistance.