OBJETIVO: Nesta investigação, os resultados tardios da ventriculectomia parcial esquerda, associada à correção da insuficiência das valvas atrioventriculares, foram estudados em 43 pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada. CASUÍSTICA E MÉTODOS: Os pacientes estavam em classe funcional III (18) ou IV (25) no pré-operatório, sendo que 7 pacientes foram operados na vigência de choque cardiogênico. A redução cirúrgica do volume do ventrículo esquerdo (VE) foi associada à anuloplastia mitral em 32 pacientes e à substituição daquela valva em 3. Em 10 pacientes, também foi realizada plastia de valva tricúspide. Doze pacientes foram submetidos ao implante de desfibriladores automáticos. RESULTADOS: Ocorreram 9 (20,9%) óbitos hospitalares. O tempo de seguimento pós-operatório variou entre dois e 68 meses, com média de 34,2 meses. Aos seis meses de seguimento, 8 pacientes estavam em classe funcional I, 13 em classe II, 3 em classe III e 1 em classe IV (p<0,001). Por outro lado, outros 19 pacientes faleceram no seguimento tardio, sendo observados índices de sobrevida de 58 (?7% em um ano, de 48 (?7% aos dois anos e de 32?(?8% aos cinco anos. A regressão logística mostrou que a sobrevida nos primeiros seis meses foi influenciada pelo diâmetro das fibras miocárdicas. A análise da sobrevida tardia através do modelo proporcional de Cox mostrou que a classe funcional IV e o nível elevado de nor-adrenalina sérica no pré-operatório estavam relacionados a maior mortalidade. Quando a análise também incluiu variáveis anatomopatológicas, a existência de apoptose das células miocárdicas e o maior diâmetro das fibras miocárdicas no pré-operatório foram identificados como únicos fatores independentes de pior prognóstico tardio. Pacientes operados em classe funcional III ou IV apresentaram índices de sobrevida de 60,6?(?11,6% e de 14,4?(?8,2% em cinco anos, respectivamente. Na presença de apoptose das células miocárdicas, a sobrevida dos pacientes foi de 8,3?(?7,9% no mesmo período, contra 63,1?(?11% na ausência dessa alteração. Em relação à função ventricular, os benefícios observados após a ventriculectomia parcial não se mantiveram tardiamente. Houve redilatação progressiva do ventrículo esquerdo, associada à queda concomitante dos valores de sua fração de ejeção. CONCLUSÃO: A ventriculectomia parcial esquerda, associada, quando necessário, à correção da insuficiência das valvas atrioventriculares, melhora a condição clínica e a função ventricular de pacientes com cardiomiopatia dilatada idiopática. Por outro lado, os resultados tardios deste procedimento são limitados pelo grau de comprometimento das fibras miocárdicas e pela severidade do comprometimento funcional dos pacientes no pré-operatório. Além disso, os seus benefícios a função ventricular são comprometidos pela possibilidade de redilatação do ventrículo esquerdo.
OBJECTIVE: Partial left ventriculectomy has been performed in patients with severe cardiomyopathies. The purpose of this investigation is to document the clinical effects of this procedure, associated with mitral insufficiency correction, in 43 patients with idiopathic dilated cardiomyopathy. METHODS: Eighteen patients were in New York Heart Association class III and 25 were in persistent class IV. Seven of these patients were operated on in cardiogenic shock. The procedure was associated with mitral anuloplasty in 32 patients and with mitral replacement in three. Ten patients were also submitted to De Vega tricuspid valve anuloplasty. Automatic cardioverter-defibrillators were implanted in 12 patients. RESULTS: Nine (20.9%) patients died during the hospital period. The follow-up time ranged from two to 57 months, with a mean of 28.3 months. At six months of follow-up, eight patients were in functional class I, 13 patients in class II, three patients in class III e one patient in class IV (p<0.001). On the other hand, nine patients died during the first six months and other ten in the later postoperative period. Actuarial survival rates were 58?(?7% at one year, 48?(?7% at two years and 32 (?8% at five years of follow-up. Stepwise logistic regression demonstrated that six-month survival was significantly affected by the degree of myocytes hypertrophy. The Cox proportional-hazards analysis showed that preoperative functional class and nor-epinephrine levels were significantly associated with a long-term unfavorable outcome. When that analysis also included anatomicopathological variables, the existence of apoptotic myocardial cells and of more important myocytes hypertrophy were identified as the unique independent predictors of poor outcome. Patients operated in functional class III or IV presented survival rates of 60 ±?11% and of 14 (?8% at five years, respectively. In the presence of myocardial cells apoptosis, the survival was 8?(?7% at the same period, where as it was 63 (11% in the absence of that alteration. CONCLUSION: Partial left ventriculectomy, associated, when necessary, with mitral insufficiency correction, improves LV function and ameliorates congestive heart failure in patients with idiopathic dilated cardiomyopathy. However, this procedure clinical application is limited by the high mortality observed in the first postoperative months and by the possibility of heart failure progression and of arrhythmia related events at the late follow-up. These facts seem to be influenced by myocardial cells compromise and by patients' preoperative condition.