RESUMO Objetivo: Avaliar as práticas clínicas e a organização dos recursos hospitalares durante o início da pandemia da COVID-19 no Brasil. Metódos: Foi realizado um estudo transversal multicêntrico. Um questionário on-line foi disponibilizado a médicos dos serviços de emergência e das unidades de terapia intensiva que atendiam pacientes com COVID-19. O questionário contemplava quatro aspectos: perfil dos participantes, práticas clínicas, protocolos de tratamento da COVID-19 e organização dos recursos hospitalares. Resultados: Entre maio e junho de 2020, 284 participantes (56,3% homens), com idade mediana de 39 (intervalo interquartil de 33 - 47), responderam ao questionário; 33% eram intensivistas e 9% eram especialistas em medicina de emergência. Metade dos respondentes trabalhava em hospitais públicos. Verificou-se que a ventilação não invasiva (89% versus 73%; p = 0,001) e a cânula nasal de alto fluxo (49% versus 32%; p = 0,005) encontravam-se mais frequentemente disponíveis em hospitais privados do que nos públicos. A ventilação mecânica foi mais frequentemente utilizada em hospitais públicos do que em privados (70% versus 50%; p = 0,024). Nos serviços de emergência, a pressão positiva expiratória final foi mais frequentemente ajustada de acordo com a saturação de oxigênio, enquanto nas unidades de terapia intensiva, a pressão positiva expiratória final foi ajustada de acordo com a melhor complacência pulmonar. Nos serviços de emergência, 25% dos respondentes não sabiam como ajustar a pressão positiva expiratória final. Comparativamente aos hospitais privados, os hospitais públicos tiveram menor disponibilidade de protocolos para Equipamentos de Proteção Individual durante a intubação traqueal (82% versus 94%; p = 0,005), o manejo da ventilação mecânica (64% versus 75%; p = 0,006) e o desmame dos pacientes da ventilação mecânica (34% versus 54%; p = 0,002). Finalmente, os pacientes passaram menos tempo no serviço de emergência antes de serem transferidos à unidade de terapia intensiva em hospitais privados do que em hospitais públicos (idade mediana de 2 (1 - 3) versus idade mediana de 5 (2 - 24) horas; p < 0,001). Conclusão: Este estudo revelou heterogeneidade considerável entre os médicos em termos de organização dos recursos hospitalares, práticas clínicas e tratamentos durante o início da pandemia da COVID-19 no Brasil.
ABSTRACT Objective: To evaluate clinical practices and hospital resource organization during the early COVID-19 pandemic in Brazil. Methods: This was a multicenter, cross-sectional survey. An electronic questionnaire was provided to emergency department and intensive care unit physicians attending COVID-19 patients. The survey comprised four domains: characteristics of the participants, clinical practices, COVID-19 treatment protocols and hospital resource organization. Results: Between May and June 2020, 284 participants [median (interquartile ranges) age 39 (33 - 47) years, 56.3% men] responded to the survey; 33% were intensivists, and 9% were emergency medicine specialists. Half of the respondents worked in public hospitals. Noninvasive ventilation (89% versus 73%; p = 0.001) and highflow nasal cannula (49% versus 32%; p = 0.005) were reported to be more commonly available in private hospitals than in public hospitals. Mechanical ventilation was more commonly used in public hospitals than private hospitals (70% versus 50%; p = 0,024). In the Emergency Departments, positive endexpiratory pressure was most commonly adjusted according to SpO2, while in the intensive care units, positive end-expiratory pressure was adjusted according to the best lung compliance. In the Emergency Departments, 25% of the respondents did not know how to set positive end-expiratory pressure. Compared to private hospitals, public hospitals had a lower availability of protocols for personal protection equipment during tracheal intubation (82% versus 94%; p = 0.005), managing mechanical ventilation [64% versus 75%; p = 0.006] and weaning patients from mechanical ventilation [34% versus 54%; p = 0.002]. Finally, patients spent less time in the emergency department before being transferred to the intensive care unit in private hospitals than in public hospitals [2 (1 - 3) versus 5 (2 - 24) hours; p < 0.001]. Conclusion: This survey revealed significant heterogeneity in the organization of hospital resources, clinical practices and treatments among physicians during the early COVID-19 pandemic in Brazil.