RESUMO O sofrimento psíquico do estudante de Medicina é conhecido e já estudado. O papel do professor em detectar dificuldades geradoras de sofrimento psíquico em seus alunos e saber como lidar com elas é fundamental para a prevenção desse sofrimento. Entretanto, nem sempre os professores estão preparados para esses desafios. Objetivo: Estudar a percepção dos docentes do curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em relação ao sofrimento psíquico de seus alunos. Método: Estudo transversal quantitativo realizado com os docentes do ciclo profissional do curso de Medicina da UFMG. A amostra de 102 docentes foi obtida por sorteio aleatório e dividida em quatro estratos: masculino até dez anos de docência, masculino com mais de dez anos, feminino com até dez anos de docência e feminino com mais de dez anos. Foi elaborado um questionário autoaplicativo de 28 itens com cinco opções da escala de Likert. Para análise dos dados foram construídos quatro indicadores: indicador de percepção de sofrimento psíquico (IPSP), indicador de compromisso do professor com as dificuldades emocionais do estudante (ICDE), indicador de atuação frente ao sofrimento psíquico (IAPS) e indicador geral (IG). Realizou-se análise dos quartis e calculou-se a diferença entre os grupos utilizando testes não paramétricos. Cinco questões não incluídas nos indicadores foram analisadas separadamente. Resultados: Dos 102 sorteados, 79 docentes responderam e sete se negaram a participar da pesquisa. Foi constatada preocupação com o sofrimento psíquico dos estudantes, variável entre os estratos. Para o IG, as professoras com mais tempo de docência obtiveram a mediana mais elevada em relação aos homens com menos tempo (p < 0,05). Para os demais indicadores, apesar da diferença entre os quartis, a comparação das medianas não mostrou diferenças estatisticamente significativas. Para as perguntas não incluídas nos indicadores, do total de professores, 85% já tiveram alunos com dificuldades emocionais. Os homens, com maior frequência, afirmaram desconhecer a existência de problemas emocionais entre os estudantes. Houve desconhecimento das instâncias de acolhimento psicólogico aos estudantes por 16,5% dos professores. A ocorrência de bullying na FMUFMG não foi percebida por mais de 50% dos professores. Apenas 28% admitiram que seus atos ou atitudes teriam desencadeado sofrimento psíquico no estudante. Ao se perguntar sobre apoio ao professor, 75,9%desejavam uma instância de apoio emocional ao professor. Conclusão: Este estudo, apesar das limitações, é inédito ao avaliar a percepção do docente do curso de Medicina em relação ao sofrimento psíquico dos estudantes. Tempo de docência e sexo feminino parecem exercer um papel importante na percepção do docente sobre o sofrimento psíquico do estudante. Parcela significativa de professores desconhece a existência das instâncias de apoio psicológico aos estudantes. Situações de assédio e bullying na escola médica permanecem negadas por muitos docentes.
ABSTRACT The psychological distress suffered by medical students is well-known. The role of the teaching staff in detecting difficulties causing students psychological distress and their knowledge of how to handle them is fundamental for preventing such problems. However, medical teachers are not always prepared to deal with these challenges. Objective: To study the perception of the teaching staff of the medical school at the Universidade Federal de Minas Gerais (FMUFMG) concerning the psychological distress of the students. Method: A cross-sectional quantitative study carried out with the faculty of the UFMG medical school. The sample of 102 teachers was obtained by random draw and divided into four groups: males with up to ten (10) years of teaching, males with more than ten (10) years, females with up to ten (10) years of teaching, and females with more than ten (10)years. A self-applied 28-item questionnaire with a 5-point Likert scale from strongly agree to strongly disagree was prepared. For the data analysis four indicators were elaborated: psychological distress perception indicator (IPSP), commitment of the teacher to the student emotional difficulties indicator (ICDE), performance in the face of psychological distress indicator (IAPS) and a general indicator (IG). Quartile analysis was carried out and the difference among the groups was calculated using nonparametric tests. Five questions that were not included in the indicators were independently analyzed. Results: Seven teachers refused to participate and 79 answers were collected.The results showed varying degrees of concern among the groups in relation to the psychological distress of students. For the IG, the female teachers with longer teaching experience obtained a higher median in relation to the men with less teaching experience (p<0.05). For the other indicators, despite the difference between the quartiles, the comparison of the medians showed no statistically significant differences. For questions not included in the indicators, it was shown that 85% of the sample had perceived psychological distress among their students. Male teachers more frequently deny psychological distress among students. 16.5% of the teachers did not know of any instances of institutional psychological care. The occurrence of bullying failed to be noted by more than 50% of the teachers. Only 28% of the teachers admitted that their actions or attitudes could precipitate a student’s psychological distress. When questioned about emotional support for teachers, 75.9% would appreciate some institutional support. Conclusion: The present study, despite its limitations, is unique in assessing the perception of the medical teaching staff in relation to the psychological distress of the students. Teaching experience and being female seem to play an important role in the teacher’s perception of psychological distress among students. A significant portion of the teaching staff ignores the existence of psychological support programs for students.