RESUMO Contexto: A emergência da terapia antirretroviral de alta potência, em 1996, mudou a história natural da infecção por HIV, com redução significativa de mortalidade por infecções oportunistas, mas com aumento de morbidade por doenças crônicas cardiovasculares, hepáticas e renais. Em maio de 2016, um centro de referência em transplante hepático no Nordeste do Brasil realizou o primeiro transplante hepático em portadores de HIV, com cinco outros até 2021. Métodos: Os critérios de seleção para o transplante hepático foram: boa aderência e ausência de resistência à terapia antirretroviral, carga viral indetectável, contagem de linfócitos T-CD4+ acima de 100/ mm3 e ausência de infecções oportunistas nos últimos 6 meses. Resultados: Seis transplantes hepáticos foram feitos em portadores de HIV entre maio de 2016 e maio de 2021, cinco homens, com idade média de 53,2 anos, um paciente diabético. Todos os pacientes tiveram acesso a enxertos com tempo de isquemia fria curto com média de 5 horas e 39 minutos. A sobrevida em 4 meses foi de 100%, com tempo de acompanhamento de 4-63 meses (média de 31 meses). A contagem média de linfócitos T-CD4+ pré-transplante foi de 436 células/ mm3. A média de tempo de internação foi de 16,8 dias. Um paciente teve trombose de veia cava proximal; outro teve estenose de anastomose cavo-caval, levando à ascite refratária, falência renal e disfunção de enxerto pós-transplante; e outro teve estenose de anastomose do colédoco. A imunossupressão e a profilaxia foram usadas de acordo com protocolos padrão e não houve diferenças no perfil de infecções ou de rejeição pós-transplante. Conclusão: Esta casuística ilustra que o transplante de fígado em portadores do HIV apresenta complicações usuais e sobrevida satisfatória.
ABSTRACT Background: The emergence of potent combined highly active antiretroviral therapy (ART) in 1996 changed the natural history of HIV infection, with a significant reduction in mortality due to opportunistic infections but increased morbidity due to chronic cardiovascular, hepatic, and renal diseases. In May 2016, a reference center for liver transplantation in the Northeast of Brazil performed the first liver transplantations (LT) in HIV patients, with five others until 2021. Methods: The criteria for selection of LT were good adherence and absence of resistance to ART, HIV viral load maximum suppression, T-CD4+ lymphocyte count of more than 100 cells/mm3, and absence of opportunistic infections in the last 6 months. Results: Six liver transplants were performed between May 2016 and May 2021, five men, with a mean age of 53.2 years, and one was a diabetic patient. All patients had access to grafts with short cold ischemia with a mean time of 5 hours and 39 minutes. The 4-month survival rate was 100%, with a range time of follow-up of 4-63 months (mean time of 31 months). The mean pre-transplant T-CD4+ lymphocyte count was 436 cells/mm3. The mean length of hospital stay after transplantation was 16.8 days. One patient presented precocious vena cava thrombosis; another had stenosis of cavocaval anastomosis leading to refractory ascites, renal failure and post-transplant graft dysfunction, and another presented stenosis of choledochal anastomosis. Immunosuppression and prophylaxis were used according to standard protocols, and there were no differences in the profile of infections or rejection after liver transplantation. Conclusion: This case series documents good survival and usual transplant procedures for confirmed HIV cases.