Este artigo analisa conflitos e articulações por trás da transformação de uma antiga área alagadiça, as várzeas do rio Pinheiros, em uma das regiões mais valorizadas de São Paulo e, atualmente, sua fachada globalizada. O texto discute, particularmente, os nexos que se constituem, nas últimas décadas, entre a financeirização global da economia e os arranjos específicos que se configuram em São Paulo; entre mecanismos supostamente avançados - como operações urbanas, Cepacs e fundos de investimento imobiliário - e formas típicas de acumulação primitiva, nas quais força, fraude, opressão e pilhagem são exibidas de modo recorrente; entre "a cidade própria" das elites e a cidade dita clandestina, que ocupa beiras de córrego, encostas de morros, margens de represas. Tomo como referência três ícones dessa paisagem urbana: uma ponte estaiada, imagem-síntese da cenografia da "nova cidade"; um gigantesco emprendimento murado, que mescla residência, comércio de luxo e escritórios; e um complexo empresarial com torres de escritório e hotel, interligados por um shopping subterrâneo.
This paper analyzes the conflicts and articulations behind the transformation of an old swampish area, the meadows of the Pinheiros river, in one of the most valued regions of São Paulo and its globalized face. The text discusses particularly the connections made in the last decades between the global financialization of the economy and the specific arrangements that take place in São Paulo; among supposedly advanced mechanisms - such as urban operations, Cepacs and real estate investment funds - and typical forms of primitive accumulation, in which strength, frauds, oppression and pillage are recurrently exhibited; between the "city proper" of the elites and the so-called clandestine city, that occupies stream edges, hillsides, margins of dams. I investigate three icons of that urban landscape: a cable-supported bridge, synthesis of the "new city" scenery; a gigantic walled development, that mixes residential, luxury trade and office buildings; and a business compound with office and hotel towers, interlinked by an underground shopping center.
Cet article analyse les conflits et les négociations sous-jacentes à la transformation d'une ancienne région inondée, la plaine inondable du fleuve Pinheiros, située dans l'une des parties les plus valorisées de São Paulo et maintenant son côté mondialisé. On y présente en particulier les liens établis au cours des dernières décennies entre la financiarisation mondiale de l'économie et les agencements spécifiques qui surgissent à São Paulo; entre des mécanismes supposés avancés - tels les plans d'actions urbains, les Cepacs et les fonds d'investissement immobilier - et des formes typiques d'accumulation primitive dans lesquelles la force, la fraude l'oppression et le pillage se répètent constamment; entre la "ville typique" des élites et la ville, dite clandestine, qui occupe les bords des ruisseaux, les pentes des collines, les bas-côtés des barrages. Trois icônes de ce paysage urbain nous servent de points de repère: un pont suspendu , une image synthèse de la scénographie de la "nouvelle ville"; une œuvre gigantesque murée qui mélange des résidences, des commerces de luxe et des bureaux; et un complexe d'entreprises avec des tours de bureaux et d'hôtels liées entre elles par un centre commercial souterrain.