A atual ampliação dos fluxos migratórios internacionais coloca em debate a responsabilização dos Estados pela garantia de direitos sociais básicos às populações imigrantes, dentre eles, o acesso à saúde. Este trabalho busca contribuir para a compreensão do Brasil neste novo quadro, por meio de uma pesquisa qualitativa sobre o acesso à saúde de imigrantes recentes na cidade de São Paulo. Foram realizadas vinte e três entrevistas em profundidade com imigrantes bolivianos, por meio de um roteiro semiestruturado. A intermitente insatisfação dos brasileiros quanto ao atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde no Brasil torna surpreendente a constatação de que, entre os bolivianos entrevistados, os serviços de saúde a que têm acesso são positivamente valorizados, ao contrário do que ocorre em seu próprio país de origem. Tal avaliação positiva só pode ser compreendida se analisada sua condição de imigrantes de primeira geração. Revelou-se fundamental compreender a perspectiva comparativa Brasil-Bolívia, utilizada pelos entrevistados para avaliar o acesso à saúde em São Paulo. Para contextualizar os dados coletados, foram delineados os principais componentes institucionais dos sistemas de saúde nos dois países e apresentado um conjunto sistematizado de dados macrossociais comparativos entre Brasil e Bolívia. Nas considerações finais, discutimos em que medida as experiências relatadas reafirmam ou não as principais teses apresentadas na literatura, à luz dos achados da pesquisa de campo. Destaca-se o papel desempenhado pelos proprietários das oficinas e pelos agentes comunitários de saúde, que aparecem como elementos facilitadores do acesso, além das redes familiares e de conacionais.
The current increase in international migrations calls into question states' responsibility to ensure basic social rights to immigrant populations, including access to health. This paper seeks to contribute to the understanding of Brazil in this new international scenario through a qualitative study on recent immigrants' access to health in São Paulo. Twenty-three in-depth interviews with Bolivian immigrants were conducted, using a semi-structured script. It was surprising to find that the immigrants valued Brazilian health services, unlike those in Bolivia, especially considering Brazilian citizens' intermittent dissatisfaction with the care available in the country's Unified Health System (SUS). This positive assessment, as we shall show, can only be understood if we analyze their status as first-generation immigrants. It was essential to understand a comparative view of Brazil and Bolivia, which was used by respondents to evaluate access to health care in Sao Paulo. To contextualize the data collected, we feined the principal institutional components of the two countries' health systems and presented a systematic portrait of comparative macro-social data for Bolivia and Brazil. In conclusion, we discuss to what extent the reported experiences reaffirm or do not reaffirm the main theses presented in the literature on immigration and health, in light of the research findings. The role played by workshop owners and community health agents in facilitating access is noteworthy, as are networks of family members and co-nationals.