OBJETIVO: Estimar a prevalência de violência contra mulheres (física, psicológica e sexual), por parceiro íntimo ou outro agressor, entre usuárias de serviços públicos de saúde e contrastá-la com a percepção de ter sofrido violência e com o registro das ocorrências nos serviços estudados. MÉTODOS: Estudo realizado em 19 serviços de saúde, selecionados por conveniência e agrupados em nove sítios de pesquisa na Grande São Paulo, entre 2001-2002. Questionários sobre violência sofrida alguma vez na vida, no último ano e agressor foram aplicados à amostra de 3.193 usuárias de 15 a 49 anos. Foram examinados 3.051 prontuários dessas mulheres para verificação do registro dos casos de violência. Realizaram-se análises comparativas pelos testes Anova, com comparações múltiplas e qui-quadrado, seguido de sua partição. RESULTADOS: As prevalências observadas foram: qualquer violência 76% (IC 95%: 74,2;77,8); psicológica 68,9% (IC 95%: 66,4;71,4); física 49,6% (IC 95%: 47,7;51,4); física e/ou sexual 54,8% (IC 95%: 53,1;56,6) e sexual 26% (IC 95%: 24,4;28,0). A violência física e/ou sexual por parceiro íntimo na vida foi de 45,3% (IC 95%: 43,5;47,1) e por outros que não o parceiro foi de 25,7% (IC 95%: 25,0;26,5). Apenas 39,1% das que relataram qualquer episódio consideraram ter vivido violência na vida, observando-se registro em 3,8% dos prontuários. As prevalências diferiram entre os sítios de pesquisa, bem como a percepção e registro das violências. CONCLUSÕES: A esperada alta magnitude do evento e sua invisibilidade foram confirmadas pelas baixas taxas de registro em prontuário. Constatou-se ser baixa a percepção das situações vividas como violência. Sugerem-se estudos ulteriores que avaliem a heterogeneidade das usuárias dos serviços.
OBJECTIVE: To estimate the prevalence of (physical, psychological, and sexual) violence against women by an intimate partner and non-partner perpetrators among users of public health services and to compare these women's perception of having ever experienced violence with reports of violence in their medical records in the different services studied. METHODS: The study was conducted in 19 health services, selected as a convenience sample and grouped into nine research sites, in metropolitan area of São Paulo from 2001 to 2002. Questionnaires on having ever experienced violence in their lifetime and in the last 12 months and perpetrators were applied to a sample of 3,193 users aged 15 to 49. A total of 3,051 medical records were reviewed to verify the notification of violence. Comparative analyses were performed by Anova with multiple comparisons and Chi-square test followed by its partition. RESULTS: The following prevalences were found: any type of violence 76% (95% CI: 74.2;77.8); psychological 68.9% (95% CI: 66.4;71.4); physical 49.6% (95% CI: 47.7;51.4); physical and/or sexual 54.8% (95% CI: 53.1;56.6), and sexual 26% (95% CI: 24.4;28.0). The prevalence of physical and/or sexual violence by an intimate partner in their lifetime was 45.3% (95% CI: 43.5;47.1), and by non-partners was 25.7% (95% CI: 25.0;26.5). Only 39.1% of women reporting any episode of violence perceived they had ever experienced violence in their lifetime and 3.8% of them had any reports of violence in their medical records. The prevalences were significantly different between sites as well as the proportion of perception and reports of violence in medical records. CONCLUSIONS: The expected high magnitude of the event and its invisibility was confirmed by low rate of reports in the medical records. Few perceived abuses as violence. Further studies are recommended taking into account the diversity of service users.