RESUMO Esta discussão sobre educação e ensino musical português, entre final do século XIX e início do século XX - uma época em que a procura das aprendizagens musicais foi rarefeita - procura introduzir a hipótese de uma leitura biopolítica a partir da tecnologia do génio. Esse conceito atravessou diversos ramos de ensino, embora através de diferentes modalidades - o que permite perguntar se a regulação artística das populações se daria por uma mesma tecnologia. A pergunta surge a partir da identificação dos diversos contextos educativos, práticas pedagógicas e incidências artísticas que parecem bifurcar o génio em nacional e individual. A educação musical (ensino primário, secundário e normal) foi incentivada pelo Estado através das práticas de canto coral, então, também designado por canto escolar, e com possibilidade de abranger toda a população. Para a grande massa, agilizou-se a incorporação do génio nacional - com suas manifestações públicas de repertório musical, linguístico, emocional e corporal. O ensino musical especializado (conservatórios) dirigia-se, porém, a uma pequena parcela da população, a qual seria capacitada para a execução e criação musical. O incentivo do génio musical (individual) repercutiu uma produtividade global de rarefação das oportunidades, sendo possível identificar algumas dessas técnicas a partir da pedagogia de instrumentos de grande procura, como o piano. Currículos e práticas escolares remetem, apesar desta diferenciação, para o génio como tecnologia unívoca, agilizada por diferentes técnicas pedagógicas de normação dos sujeitos.
ABSTRACT This discussion about Portuguese music education, between the end of the 19th century and the beginning of the 20th century, a time when the demand for musical learning was rarefied, seeks to introduce the hypothesis of a biopolitical understanding of the technology of genius. This concept crossed several branches of education, albeit through different modalities - which allows us to ask whether the artistic regulation of the populations was conducted by the same technology. The question arises from the identification of different educational settings, pedagogical practices and artistic incidences that seem to bifurcate the genius into national and individual. Music education (primary, secondary and normal) was encouraged by the State through choral singing practices, given its possibility of reaching the entire population. For the great mass, the incorporation of the national genius was enabled - with its public manifestations of musical, linguistic, emotional, and corporal repertoire. Conservatoire music education was directed, however, to a small part of the population, which would be qualified for musical execution and creation. The incentive of (individual) musical genius reflected a global productivity of rarefaction of opportunities, allowed for the identification of some of these techniques possible within the pedagogy of instruments of great demand, such as the piano. Thus, despite this differentiation, curricula and school practices refer to genius as a univocal technology, facilitated by different pedagogical techniques of subject regulation.